Casa onde Mãe Stella cresceu será transformada em centro de referência de candomblé

Uma casinha pequena, com a fachada rosada, guarda o início da história de uma das maiores yalorixás do país: Mãe Stella de Oxóssi, líder do Terreiro Ilê Axé Opó Afonjá. Localizada na Ladeira do Ferrão, nº 6 - que dá acesso do Pelourinho para a Baixa dos Sapateiros - no Centro Histórico de Salvador, a residência é o local onde a mãe de santo nasceu e viveu até os cinco anos.



Casa onde nasceu Mãe Stella de Oxóssi será Centro de Referência sobre principais yalorixás baianas (Foto: Terreiro Afonjá/Divulgação)



Agora, ainda como parte das celebrações dos 90 anos de Mãe Stella, o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) vai transformar a casa no Centro de Referência Odé Kayodê. O futuro centro terá um caráter multidisciplinar e multimídia, abrigando produções científicas, acadêmicas, audiovisuais e sonoras que reverenciem as principais yalorixás baianas.

“A ideia é fazer um centro de referência e não um memorial. Queremos um lugar que abrigue o conhecimento a cerca desse universo do candomblé, focado nas yalorixás da Bahia”, explica Roberto Pelegrino, gerente de Patrimônio Imaterial do Ipac. Segundo ele, a intenção é disponibilizar a informação de maneira dinâmica, sempre atento às novas tecnologias. “Que tenha esse apelo das mídias modernas, e se torne um atrativo pra todas as pessoas”, esclarece.

Ainda no início do processo de reforma, o projeto vai contar o auxílio do Centro de Documentação e Memória (Cedom) do Ipac, que fica a poucos metros da sede do novo espaço, na Rua Gregório de Mattos, nº 29, no Pelourinho. “O Cedom vai ser um dos braços do espaço, com seu acervo que vai ser constantemente alimentado”, afirma Roberto.

A moradora ilustre da casa número seis ficou feliz com a notícia. O imóvel, que já pertencia ao quadro imobiliário do Ipac, traz boas lembranças do tempo de menina. “Lembro da minha mãe, do jeito especial como ela cortava lima para mim, que era um jeito dela”, recorda Mãe Stella.

Terceira de seis filhos, a mãe de santo, que nasceu na residência, de parto normal, no dia 2 de maio de 1925, ainda lembra de uma situação engraçada que presenciou. Um dia, um funcionário da vigilância sanitária visitou a casa a fim de fiscalizar se havia larvas de mosquitos nos potes de água. A mãe de Mãe Stella, sempre muito cuidadosa, sabia que em sua casa não havia larvas. “Ela era muito calada, falava baixo. Mas ele foi grosso e ela, então, simplesmente tacou o pé no pote e quebrou”, recorda, entre risos.

Para a matriarca do Terreiro Ilê Axé Opó Afonjá, a iniciativa demonstra o respeito dos baianos a sua própria cultura. “Antes, só o estrangeiro ela valorizado para os brasileiros e baianos. É bom ver que agora os baianos estão valorizando o seu povo”, diz a mãe de santo, que amanhã, às 9h30, participa da apresentação do documentário Folhas Encantadas, desenvolvido pela equipe da professora Alessandra Caramori, do Instituto de Letras da Ufba, no auditório do PAF 3, no Campus de Ondina.

Ainda não há data para a entrega do Centro de Referência Odé Kayodê. De acordo com o gerente de Patrimônio Imaterial do Ipac, o projeto ainda está na fase de reforma da casa. “Fizemos uma vistoria há umas duas semanas. Já foram feitas obras de reforma do telhado, por exemplo, e estamos procurando acelerar na medida do possível”, revela Roberto.

FONTE: Jornal Correio em 17/06/2015

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