Campus Maracanã reúne evangélicos, umbandistas e pesquisadores para discutir intolerância religiosa

Evangélicos das Igrejas Assembleia de Deus e Batista Tradicional, um umbandista e pesquisadores sentaram à mesa para uma roda de conversa sobre intolerância religiosa na escola e em outros espaços da sociedade. Foi esse debate que deu início à programação da Semana do 13 de Maio, no IFMA - Campus Maracanã.
A gestora de Ações Afirmativas da Secretaria Estadual da Igualdade Racial, Jacinta Maria Santos, que também é agente pastoral de negros no Brasil, defendeu a necessidade de se propagar a ideologia do respeito à diferença. “Somos educados para a intolerância, para pensar que a nossa religião é a certa”, afirmou.
As religiões de matriz africana, na opinião de Jacinta, são atacadas por outros grupos religiosos sob a acusação de cultuarem o diabo. Ela explicou que a figura diabólica não existe na estruturação das religiões africanas. “Mas o mal está em qualquer lugar, por isso, devemos estar vigilantes uns com os outros”, frisou. A pastoral da qual Jacinta faz parte tem como proposta refletir a negritude a partir da fé, reunindo pessoas de diversas religiões.
O professor de História Geral do Campus Maracanã, Hérliton Rodrigues, ressaltou que a religião é uma construção social e espaço de plena disputa de poder. “O Estado Brasileiro, historicamente, era o principal preconceituoso. Mas isso tem mudado e as demais religiões também estão mudando o comportamento em relação às religiões de matriz africana”, observou o professor, ao lembrar que dos negros escravizados no Brasil foi retirado até o direito de cultuar seus deuses, por isso o sincretismo entre divindades africanas e santos católicos.
O estudante Willame Sthael Santos Neves, que é da Assembleia de Deus, reconheceu que em sua religião os fies são levados a pensar as demais religiões como seitas. Ele evocou o exemplo de Jesus Cristo, que instituiu como grande mandamento o amor ao próximo. “Devemos aceitar as pessoas não pelo que queremos que elas sejam, mas pelo que elas são”, sugeriu o estudante.
Para o estudante Natanael da Costa, que é da Igreja Batista, o respeito entre as religiões e a integração entre elas deve partir da percepção de que o Brasil é um país que reúne uma diversidade de povos. “Não respeitando isso, estamos deixando de respeitar nossa própria nação”, argumentou.
Já o estudante Manuel Francisco disse que tinha vergonha de ser umbandista. “Tinha medo de pensarem que eu não era de Deus”, lembra. O reconhecimento de sua identidade religiosa aconteceu na culminância da Semana da Consciência Negra do IFMA, realizada ano passado no município de Codó. “Já fui zombado depois que me declarei. Mas hoje tenho coragem de dizer que sou umbandista, sou negro e não tenho vergonha”, declarou Manuel.


13 de maio

Também entrou em pauta a necessidade de ressignificação do dia 13 de maio. Para o professor Hérliton, a data que é conhecida por ser o dia da abolição da escravatura no país não deve servir para festejar a princesa Isabel (foi ela quem assinou a chamada Lei Áurea). Segundo ele, em 1888, quando aconteceu esse fato, havia ainda apenas 5% de escravos. Os demais já estavam libertos, como resultado de lutas travadas nas diferentes regiões brasileiras.
A coordenadora do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indiodescendentes (NEABI), no Campus Maracanã, Socorro Botelho, defendeu a adoção de novas posturas. “A história não nos foi contada direito e isso contribuiu para a intolerância que vem assolando os negros deste país”, disse. O diretor de Desenvolvimento Educacional (DDE), Jean Magno Moura de Sá, elogiou a ação do NEABI e disse que esse tipo de organização contribui para que o racismo seja deixado para trás. A chefe do Departamento de Assistência ao Educando, Conceição Teixeira, acompanhou as discussões.

Programação

No período de 13 a 17 de maio, os professores do Campus Maracanã foram estimulados a realizar atividades alusivas ao contexto sócio-histórico do 13 de maio. Para a cerimônia de abertura, estudantes do terceiro ano integrado em Agropecuária recitaram poesias; algumas de autoria própria. Outro grupo do terceiro ano apresentou o Maculelê.

Nesta sexta-feira (17), às 15h, haverá uma roda de conversa sobre o processo de aprendizagem da cultura do café na Tecnologia de Alimentos, coordenada pela professora Antônia Macedo. Às 15h30, acontecerá uma roda de conversa abordando os desafios encontrados na implementação das leis 10.639/2003 e 11.645/2008 no Campus Maracanã. O encerramento será às 16h, na Praça do campus, onde serão apresentadas atividades desenvolvidas pelos estudantes e um abraço simbólico pelo 13 de maio.

FONTE: Instituto Federal do Maranhão em 16/05/2013


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