“Caminhos para a Liberdade Religiosa” discute Educação e religião na CEUB
Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), com apoio do
Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP) e patrocínio
da Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos
(SEASDH), realizou, na tarde do dia 12 de dezembro, o primeiro seminário
“Caminhos para a Liberdade Religiosa”, em que o tema foi Intolerância
Religiosa na Educação. O encontro aconteceu na Congregação Espírita
Umbandista do Brasil (CEUB), no bairro do Estácio. Representando o
Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro (CEERJ), Édna Santos
mediou o debate, que contou com participação das professoras Azoilda
Loretto da Trindade e Helena Theodoro. Este foi o primeiro de uma série
de encontros. A intenção é provocar reflexão sobre os diversos temas, e o
público contará com mais três encontros até 21 de janeiro de 2013,
quando será comemorado, na Cinelândia, o Dia Nacional de Combate à
Intolerância Religiosa.
Édna Santos deu início às falas de boas-vindas e, a seguir, passou
para Trindade. Professora Azoilda comentou que se preocupava com o que
era feito por alguns docentes que insistiam em privilegiar segmentos
religiosos dentro das salas de aulas. “O que é feito por alguns
professores nas salas que distinguem as crenças de seus alunos? Me
preocupo com a diversidade no ambiente escolar, pois precisamos zelar
por ela”, disse, complementado com uma história. “No último final de
semana, participei de um evento em que quem falava não tomou cuidado com
as palavras e acabou afastando a plateia, composta por pessoas de
várias religiões. Quando se fala em fé, é preciso ter a consciência de
que se trata com o sagrado do outro. E isso é muito mais sério que se
pensa”, complementou.
Identidades culturais
Azoilda Trindade ainda advertiu para a necessidade de não se deixar
perder as identidades culturais e contou um exemplo que vivenciou. “Eu
já presenciei uma pessoa que não tinha crença e ocupava um cargo
importante na instituição de ensino. Ao dar início à sua nova função,
disse que não retornaria à escola se não retirassem uma imagem de santa
católica que, há anos, estava ali. Ainda tentaram argumentar com ela
dizendo que a Bíblia também estava na escola. Ela respondeu que não era
para ter nem Bíblia e nem santa. O fato dela não ter religião não dá o
direito de tirar o de outras pessoas. É por isso que os estudantes ainda
sofrem, por exemplo, com professores que não deixam a capoeira fazer
parte de atividades da escola por conta da instrumentalização. Tudo isso
é muito sério, pois não tratamos nossa subjetividade”.
Em sua fala, professora Helena Theodoro expôs que posicionou, em
trabalho de doutorado, os princípios africanos com os judaico-cristãos. E
ratificou a necessidade do cuidado com tudo que escrevia por saber que
tratava dos sagrados de outras milhões de pessoas. “O que Azoilda disse é
muito mais sério que pensamos: trabalhar com o outro é muito difícil.
No entanto, é preciso aguçar essas descobertas e lembrar que sempre se
deve respeitar o próximo”, declarou, enfatizando que liberdade religiosa
está prevista na constituição, mas que era chegada a hora de ir além.
“A lei trata do que é externo. A intolerância religiosa ultrapassa isso,
pois mexe com as almas das pessoas, com aquilo que elas têm de mais
importante. Esse tipo de preconceito nasce do mesmo lugar que o
racismo”, afirmou.
Para a professora Helena, a necessidade de se perceber e entender a
pluralidade da humanidade se faz mais essencial do que o Ensino
Religioso. Segundo ela, a troca entre os diferentes dá a oportunidade de
um conhecer do outro aquilo que não se sabe. “Se existe lei para impor
de alguma forma o Ensino Religioso, o ideal é que se atente para o fato
de que a pluralidade permite com que todos tenham novos conhecimentos e
aprendam a respeitar o que não faz parte de seu cotidiano. É preciso
discutir a possibilidade que o outro nos dá de conhecer o que não
conhecíamos”.
Theodoro comparou em suas falas a comunicação entre pais e filhos com
a internet. Para ela, há a necessidade também de a familiar se unir
para que as crianças, através do diálogo, compreendam o que não faz
parte do mundo delas, mas que, nem por isso, deve ser desprezado. “Que
comunicação é essa que as crianças hoje em dia falam com todo o mundo,
conhecem todos os lugares, mas não falam direito com os pais e, muitas
vezes, não conhecem as pessoas que moram dentro de seus próprios lares? É
preciso se dar conta de que nada substitui um bom papo, uma boa direção
de um pai ou mãe. Educação também vem de casa, e precisamos levar isso
em consideração”, finalizou.
O interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa,
babalawo Ivanir dos Santos, agradeceu aos participantes da mesa e à
SEASDH, e lembrou da mobilização para o 21 de janeiro, na Cinelândia. “É
um dia que todos os brasileiros devem parar para refletir, pois uma
sacerdotisa do Candomblé morreu após ver seu rosto estampado na capa da
‘Folha Universal’, com dizeres depreciativos. Por isso é que temos que
unir forças e mostrar para as pessoas que nossas diferenças é que
constroem a beleza do mundo”.
O próximo seminário está previsto para as 14h do dia 19 de dezembro,
também na sede da CEUB, e terá como tema a liberdade de expressão e as
religiões. Os organizadores levarão profissionais da Comunicação para o
debate.
FONTE: Centro de Articulação de Populações Marginalizadas em 13/12/2012
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