Terreiro é perseguido pela GCM, diz mãe de santo

Por Yara Ferraz
Diário do Grande ABC




Frequentadores do terreiro Vó Maria de Aruanda, no Centro de Diadema, com quase 60 anos de atuação, apontam intolerância religiosa e perseguição por parte da GCM (Guarda Civil Municipal). Isso porque a corporação teria desrespeitado celebração religiosa e invadido o espaço sob justificativa de que o barulho dos tambores atrapalhava os vizinhos e infringia legislação municipal – a lei 2.135/2002 prevê que barulho fique entre 45 e 70 decibéis durante qualquer horário do dia. Conforme a filha de santo e neta de mãe Corina, Daniele Amorim, 35 anos, no dia 14 de janeiro, equipe da GCM invadiu o espaço e determinou o encerramento das atividades, por volta das 20h. “Eles disseram que poderia ter o culto, mas sem os atabaques. Todos os carros que estavam estacionados na porta da casa foram multados e eles mediram os decibéis na porta do terreiro. Minha avó ficou muito nervosa e a gente teve que parar o culto”, disse.

O último episódio considerado como perseguição pela família e religiosos foi observado no dia 30, em meio a evento preparativo para festa de Iemanjá, quando agentes da corporação voltaram ao terreiro para fiscalizar. “Eles ficaram anotando algumas coisas e eu fiquei até com receio de sair na rua”, destacou Daniele.

As duas situações não são atos isolados, tendo em vista que, no ano passado, homens da guarda também chegaram a entrar no terreiro para alertar sobre o barulho. No entanto, na ocasião, o problema foi resolvido com diálogo.

Conforme a Fucabrad (Federação de Umbanda e Cultos Afro-Brasileiros de Diadema), a cidade tem 150 terreiros, sendo o de mãe Corina Gomes de Paula, 84, um dos mais tradicionais, já que chega a reunir até 200 frequentadores.

Conforme o advogado Hédio Silva, integrante da comissão de liberdade religiosa da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e representante do terreiro, será impetrada ação na Justiça contra a Prefeitura. “Vamos buscar a punição dos guardas e medidas de segurança para proteger o terreiro. Isso vai ser feito por ações judiciais preventivas, por meio das quais o juiz determina que a instituição não fique sujeita a arbitrariedade”, disse.

O advogado afirmou ainda que o ato da GCM fere legislação federal relacionada à proteção religiosa – lei 2.848. Conforme o artigo 208, fica proibido impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso. “Utilizaram o argumento de que estaria produzindo poluição sonora, mas isso não foi medido dentro do terreiro. Depois, ameaçaram fechar o terreiro, como se tivessem competência legal para isso. A atuação por infração de trânsito aos veículos também foi abusiva”, afirmou Silva.

Para o presidente da Fucabrad, Cássio Ribeiro, está claro que se trata de intolerância religiosa. Segundo ele, nenhum outro terreiro da cidade passou por problemas similares. “Fizeram terrorismo com essas pessoas, o que não fariam em uma igreja evangélica ou católica. Consideram a umbanda uma sub-religião.”

Ciente do problema, o vereador Joza Queiroz (PT), também frequentador do terreiro, convocou audiência com o comando da GCM para terça-feira, às 17h, na Câmara. Já a Prefeitura de Diadema não se pronunciou sobre o assunto.

FONTE: Diário do Grande ABC em 04/02/2017

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