O diálogo inter-religioso como estratégia de combate ao racismo


Por Pai Rodney

Nesses últimos meses, os casos de intolerância religiosa têm adquirido contornos de terrorismo. Não bastasse tudo que os adeptos das religiões de matriz africana já passamos para manter o legado de nossos ancestrais, agora temos que enfrentar os “Bandidos de Cristo”. Não, vocês não leram errado. Agora, os terreiros de candomblé e umbanda do Rio de Janeiro, especialmente da Baixada Fluminense, vêm sendo ameaçados por uma facção que é chamada de “Bandidos de Cristo” ou “Bonde de Jesus”.

Num cenário de tantas hostilidades e humilhações, pais, mães e filhos de santo são ainda mais coagidos, vilipendiados e correm sérios riscos. Inúmeros terreiros foram invadidos e depredados na região de Caxias e Nova Iguaçu, com rituais interrompidos sob a mira de armas pesadas. Nunca poderíamos imaginar que a violência do narcotráfico estaria a serviço do fundamentalismo religioso. Sabemos que esse não é um ensinamento cristão, mas será que igrejas evangélicas e católicas têm se posicionado adequadamente?

Outro movimento também tem chamado atenção: alguns cantores evangélicos estão suprimindo das músicas palavras que remetam à religiosidade afro-brasileira. Recentemente, o líder de um famoso grupo da Bahia não cantou um trecho da canção que dizia “candomblé”. Uma dupla feminina, assim como outra popstar baiana, recusou-se a falar “Iemanjá”. Como se tratam de músicas bem conhecidas, a alteração da letra ou o silêncio sempre expressam um ato deliberado de intolerância.

Bastaria não cantar, mas escamotear a palavra é uma forma de atacar as religiões afro-brasileiras. Trata-se de uma prática dissimulada, na verdade, é o racismo religioso disfarçado de liberdade de expressão de uma maneira cínica e cruel. Será que não sabem que terreiros estão sendo destruídos? Que pessoas têm sido agredidas e humilhadas? Essa ação é tão criminosa quanto qualquer ato de intolerância. Será que a igreja a que esses artistas servem não vai assumir sua responsabilidade e recomendar a seus ilustres fiéis que não incitem à violência?

Por ocasião de um julgamento do STF sobre o direito das religiões de matrizes africanas ao sacrifício de animais, uma ativista famosa fez uma postagem com a foto de um cachorrinho sugerindo que a justiça havia dado permissão para matá-lo. Essa pessoa certamente nunca se importou com as estatísticas que revelam que a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado. Nunca falou a respeito do projeto de redução da maioridade penal, nem sobre o que pensa a respeito das políticas de cotas. Ignora completamente a luta de muitas mulheres pela descriminalização do aborto. Não se manifesta a respeito de temas tão relevantes, mas se acha no direito de contestar uma decisão unânime da mais alta Corte do País. O sacrifício de animais é direito constitucional dos afro-religiosos, e qualquer opinião contrária é tão somente expressão do racismo.

Para pensar nessas e em outras importantes questões sociais, todos os sábados, 22 jovens das periferias, região metropolitana e do interior de São Paulo se juntam e promovem uma conversa sobre algumas alternativas para o aperfeiçoamento das instituições democráticas, buscando compreender a pluralidade do povo brasileiro. Esse projeto surgiu em 2017 e recebeu o nome de Escola Comum.

A sede fica no Castelinho da Rua Apa, na região central da cidade, e neste sábado, 31 de agosto, recebe quatro líderes religiosos para um debate sobre as percepções de temas como política, poder, direitos humanos e gênero e sobre a responsabilidade das religiões na construção de uma democracia forte, na luta antirracista e na garantia de direitos das minorias. Participam do diálogo o pastor Ed Rene Kivitz, o antropólogo e babalorixá Pai Rodney William, o presidente da Associação Religiosa Beneficente Islâmica do Brasil Hassan Gharib e o Padre Sebastião dos Reis.

Bastaria não cantar, mas escamotear a palavra é uma forma de atacar as religiões afro-brasileiras. Trata-se de uma prática dissimulada, na verdade, é o racismo religioso disfarçado de liberdade de expressão de uma maneira cínica e cruel. Será que não sabem que terreiros estão sendo destruídos? Que pessoas têm sido agredidas e humilhadas? Essa ação é tão criminosa quanto qualquer ato de intolerância. Será que a igreja a que esses artistas servem não vai assumir sua responsabilidade e recomendar a seus ilustres fiéis que não incitem à violência?

Por ocasião de um julgamento do STF sobre o direito das religiões de matrizes africanas ao sacrifício de animais, uma ativista famosa fez uma postagem com a foto de um cachorrinho sugerindo que a justiça havia dado permissão para matá-lo. Essa pessoa certamente nunca se importou com as estatísticas que revelam que a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado. Nunca falou a respeito do projeto de redução da maioridade penal, nem sobre o que pensa a respeito das políticas de cotas. Ignora completamente a luta de muitas mulheres pela descriminalização do aborto. Não se manifesta a respeito de temas tão relevantes, mas se acha no direito de contestar uma decisão unânime da mais alta Corte do País. O sacrifício de animais é direito constitucional dos afro-religiosos, e qualquer opinião contrária é tão somente expressão do racismo.

Para pensar nessas e em outras importantes questões sociais, todos os sábados, 22 jovens das periferias, região metropolitana e do interior de São Paulo se juntam e promovem uma conversa sobre algumas alternativas para o aperfeiçoamento das instituições democráticas, buscando compreender a pluralidade do povo brasileiro. Esse projeto surgiu em 2017 e recebeu o nome de Escola Comum.

A sede fica no Castelinho da Rua Apa, na região central da cidade, e neste sábado, 31 de agosto, recebe quatro líderes religiosos para um debate sobre as percepções de temas como política, poder, direitos humanos e gênero e sobre a responsabilidade das religiões na construção de uma democracia forte, na luta antirracista e na garantia de direitos das minorias. Participam do diálogo o pastor Ed Rene Kivitz, o antropólogo e babalorixá Pai Rodney William, o presidente da Associação Religiosa Beneficente Islâmica do Brasil Hassan Gharib e o Padre Sebastião dos Reis.

FONTE: Carta Capital em 30/08/2019

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