Tensão religiosa em Lauro de Freitas pode terminar em tragédia



Por Ricardo Andrade

Por muito pouco, não aconteceu um fato grave com cunho religioso, na tarde deste sábado (27), no município de Lauro de Freitas, estado da Bahia. É nesta cidade que abriga mais de 400 terreiros de candomblé que acontece inúmeros casos de intolerância e ódio religioso.

O fato de hoje aconteceu no Jockey Clube, loteamento de classe média, onde está instalado o Ilê Oba L’Okê, terreiro de candomblé liderado pelo Babalorixá Vilson Caetano e seu companheiro Rodrigo Siqueira que relatou a redação do Folha, que por volta das 17 horas e 30 minutos, um homem tocou a companhia do terreiro e foi atendido por ele.

Num estado de descontrole e muito nervoso, o homem, que é evangélico, acusou a comunidade de ter sido responsável por um “bozó” colocado em frente a sua casa, que fica próximo ao terreiro.

Segundo depoimentos, Rodrigo Siqueira, teria explicado ao homem que a casa não tinha conhecimento, nem tão pouco responsabilidade para com a oferenda, mas o homem insistia em dizer que era daquela comunidade que saia “os bozós” que poluíam a rua. Ele gritou que o candomblé era uma casa de bozó. Sendo assim, o que estava na porta dele teria saído do candomblé mesmo.

Revoltado com a acusação, Rodrigo subiu o tom de voz e para garantir a integridade e a dignidade da sua comunidade, mandou que o homem saísse de sua porta e a discussão entre os dois evoluiu.

“Graças a Deus e aos orixás os ânimos se acalmaram e um fato mais grave não aconteceu. Eu já vivo tensa aqui em casa… Quando a campainha toca meu coração já bate forte. São mais de 10 anos de perseguição á nossa comunidade”. Disse mãe Dete de 70 anos, moradora do terreiro.

Vilson Caetano, líder espiritual da casa, afirma que esse homem já vem perseguindo o terreiro há algum tempo. Disse ainda, que esta é a segunda vez que ele foi à porta do terreiro. A primeira se deu a mais de 4 anos, logo após a inauguração do barracão quando ele acusou a comunidade do sumiço de um de seus gatos.

Para Ana Luzia da Rede Orooni, a perseguição ao Oba L’Okê acontece pelo fato de estar localizado num bairro considerado nobre e por ser é um dos imóveis, mas bem avaliados da rua. Segundo ela, isso causa insatisfação em muita gente. “As pessoas não admitem um terreiro aqui. O racismo ensinou que terreiro é coisa de negros e só deve existir na periferia”. Afirmou

É do terreiro Oba L’Okê, o primeiro caso de intolerância religiosa a ser julgado em Lauro de Freitas. A audiência acontecerá no próximo dia 8 de agosto no fórum criminal da cidade. Entidades de proteção e defesa das comunidades de matriz africana como a AFA (Associação Afro-ameríndia), O Orooni (Rede Jovem de Candomblé) a ACBANTU (Associação Cultural de Preservação da Cultura Bantu) e a FENACAB (Federação Nacional do Culto Afro-brasileiro) acompanham o processo e organizam um ato na porta do Fórum no dia do Julgamento.

As autoridades precisam tomar medidas mais enérgicas no combate ao ódio e a intolerância religiosa ou correremos o risco registrar a qualquer momento em qualquer lugar uma fatalidade sem precedentes.

FONTE: Folha Popular em 28/07/2019

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