Religiões de matrizes africanas no AP criticam atos de intolerância religiosa: 'Preconceito e racismo'

Por Victor Vidigal
Membros de religiões de matriz africana estão preocupados com os casos de intolerância religiosa em Macapá — Foto: Jéssica Alves/Arquivo G1


Membros de religiões de matrizes africana dizem estar preocupados com casos de intolerância religiosa em Macapá, no Amapá. Grupos denunciam ameaças de vizinhos aos terreiros e o preconceito aos praticantes das religiões como candomblé e batuque.

O último caso do tipo teria acontecido no dia 25 de junho em frente ao Terreiro de Salvino de Jesus, de 69 anos, no bairro Pedrinhas, na Zona Sul. Enquanto comemorava o Dia de São João seguindo as tradições do candomblé, o grupo religioso foi surpreendido com gritos e preces vindos de um campo de futebol que fica em frente ao local.

"O que lembro é que eles falavam 'queima Jesus, queima esta casa'. Isso é preconceito, racismo e falta de respeito com as pessoas", relatou.

Os gritos e preces, considerados por Salvino como ato de intolerância religiosa, teriam sido feitos por integrantes de uma igreja evangélica vizinha ao terreiro.

Após o caso, a Promotoria de Direitos Constitucionais do Ministério Público do Amapá (MP-AP) abriu uma investigação para apurar casos como o que ocorreu no terreiro de Salvino. O órgão também irá promover uma campanha de combate a atos do tipo.

"É importante que exista diversidade religiosa. É importante, também, a diversidade de pessoas e de etnias. Entretanto, o mais basilar é que exista tolerância, pois sem esta a diversidade em todos os seus aspectos tende a desaparecer, e o ódio - repudiado por todas as denominações religiosas - triunfará", disse o promotor de Justiça Hélio Furtado.

O professor Marcos Vinícius de Freitas, do curso de relações internacionais da Universidade Federal do Amapá (Unifap), está à frente do Fórum pela Liberdade Religiosa, outra ideia de combate à intolerância religiosa.

Formado por cerca de 40 membros, entre professores, acadêmicos e representantes de religiões de matriz africana, o grupo busca levar a discussão sobre intolerância na religião para além dos muros da universidade.

"Há um ano começa a ocorrer atos de intolerância religiosa contra religiões de matriz africana aqui no Amapá. Essas demandas começaram a chegar para a gente na Unifap. Quando teve a questão do Salvino vimos que era hora de criar um espaço para que possamos dar exemplos e iniciativas de combater isso, que cada vez está sendo mais corriqueiro", destacou o professor.

O professor cita os casos da Mãe Lilian, que teve o atendimento finalizado depois de uma denúncia do vizinho pela prática religiosa; de terreiros de Macapá que têm dificuldade de fazer festas por conta de ameaças de pessoas que não gostam do bater de tambor; e a proibição de apresentação de marabaixo numa igreja católica da capital.

O grupo pensa em fazer eventos, mesas de discussões e projetos de pesquisas como formas de combater a intolerância religiosa no Amapá.

No Brasil, em 2018, o número de denúncias de casos do tipo contra religiões de matrizes africanas feitas pelo Disque 100, serviço de atendimento 24 horas do Ministério de Direitos Humanos, aumentou em 7,5%.

O artigo 5º, inciso VI, da Constituição Federal, prevê inviolável o direito a consciência de crença e assegura o livre exercício de rituais religiosos, assim como a garantia por lei de proteção aos locais de cultos.

FONTE: Portal G1 em 01/07/2019

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