MPF reúne babalaô e pastores evangélicos para discutir combate à intolerância religiosa

Por Johanns Eller

Encontro com pastores evangélicos foi promovido pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e o MPF, representados, da esquerda pela direita, pelos procuradores Sergio Gardenghi e Julio Junior, o babalawó Ivanir dos Santos e o procurador Jayme Mitropolous Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo

RIO — O Ministério Público Federal (MPF) sediou nesta terça-feira um encontro inédito entre pastores evangélicos, promovido pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa

(CCIR) e organizado pelo babalaô Ivair dos Santos. A reunião ocorreu na sede do órgão, no Centro do Rio.

A perspectiva é que a reunião seja um ponto de partida para traçar estratégias que inibam episódios de violência. O crescimento expressivo de ataques contra terreiros por parte do tráfico de drogas, especialmente na Baixada Fluminense, tem chamado a atenção do MPF.

Segundo a CCIR, 20 denúncias foram registradas São Gonçalo desde o início do ano. Em Duque de Caxias, foram 15 templos fechados à força. Em São João de Meriti e Belford Roxo, foram dez em cada.

Os dados podem estar subnotificados, já que muitas lideranças temem que queixas levem a retaliações. Muitos atos violentos são fruto de ações de criminosos evangélicos ligados ao tráfico.

Para Ivanir dos Santos, o diálogo representa um grande passo.

— Uma parcela está nessa conversa está desde 2008, quando fizemos a primeira caminhada contra a intolerância religiosa. A novidade é chamarmos para discutir uma estratégia de combate à intolerância a partir da perspectiva deles. Fico muito feliz que aceitaram — afirma o babalawó. — A gravidade dos ataques que estão acontecendo macula a imagem dos evangélicos. A grande maioria não é assim, essa reunião quer mostrar isso.

No próximo domingo, a CCIR organizará a primeira caminhada contra a intolerância na Baixada Fluminense, de olho nas estatísticas. A marcha ocorrerá em Nova Iguaçu. O babalaô defende que o evento seja mais um chamado para a conversa:

— É importante que ocorra na Baixada. Queremos apenas respeito e chamar as pessoas que querem dialogar. Isso é fundamental para a sociedade brasileira em um momento que há muito ódio.

Anfitrião do encontro, que contou com representates pentecostais e tradicionais, como igrejas batistas, luteranas e anglicanas, o MPF tem tido protagonismo na denúncia dos casos de intolerância na figura do procurador Julio José Araújo Jr.

Em maio, o governador Wilson Witzel foi intimado pelo órgão a interferir nos episódios de violência. Ele, filiado ao Partido Social Cristão (PSC), se reuniu em junho com a CCIR e Araújo, que aguardam um segundo encontro para discutir políticas que solucionem o problema.

Araújo acredita que a instituição pode colaborar ativamente no processo.

— A intenção é abrir as portas da instituição para garantir que esse diálogo inter-religioso contribua para esse combate à intolerância religiosa. Da mesma forma que há papel importante das instituições em combater práticas ilícitas e cobrar políticas públicas, é importante interagir com os diversos segmentos da sociedade para que eles se manifestem e se unam e se articulam em torno de um pacto contra a intolerância religiosa — avalia o procurador, que atua na Baixada Fluminense.

Pastores convidados para o encontro saudaram a iniciativa.

— Nós, ministros religiosos, às vezes não temos noção do poder que a gente tem sobre a multidão, que nos ouve de forma muito confiante. Se nós tivermos na nossa liderança a mentalidade de que precisamos respeitar o outro independente da sua cor, do seu credo, se dermos nossos exemplos e sentarmos à mesa como em um encontro desse, já estamos pregando uma mensagem de respeito e tolerância — aponta Neil Barreto, pastor da Igreja Batista Betânia, de Sulacap, Zona Oeste do Rio.

Luismarina Campos Garcia, pastora e representante do Conselho de Igrejas Cristãs do Estado do Rio, espera para que estratégias sejam definidas.

— Eu acho que é muito importante falar com pastores e pastoras para que a gente trace estratégias de enfrentamento nesse quadro de violência religiosa. Precisamos encontrar pessoas que trabalham a partir de uma perspectiva de respeito e carinho da outra religião — diz Lusmarina. — Acho que é importante esse encontro e que o MPF seja um sujeito desse evento, porque daí traz essa dimensão pública, da participação estatal, no processo, e compromete o estado com o combate à intolerância religiosa.

FONTE: Jornal O Globo em 09/07/2019

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