Ataque a templo de umbanda evidencia intolerância religiosa

Rui Carlos


Por Simone de Oliveira

O dia 21 de janeiro foi estabelecido como o Dia Nacional à Intolerância Religiosa. E a data não foi escolhida aleatoriamente. Neste dia, em 2007, a sacerdotisa do Candomblé Gildásia dos Santos, conhecida como Mãe Gilda, teve seu terreiro invadido por grupos de outra religião. O marido foi agredido e ela veio a falecer em decorrência de um enfarto.

Passados 10 anos, a história continua se repetindo em todo o país e na Região não é diferente. Na noite do último dia 19, o Templo de Culto à Ògún e Yemojá (TCOY), em Campo Limpo Paulista foi alvo desta intolerância. Segundo relata o pai Beto D’Ogún, com 30 anos de Umbanda, responsável pelo templo, esta foi a primeira vez que sentiu a discriminação de perto. E de uma forma brutal e covarde.

Ele conta que 20 minutos após iniciar o primeiro culto da noite, o templo foi apedrejado. Crianças, idosos e até um cadeirante precisaram ser amparados. “Nosso templo foi apedrejado, vários carros danificados e uma pessoa saiu levemente ferida. Fomos hostilizados com xingamentos de baixo calão por um vizinho ignorante e intolerante que tenta a todo custo nos tirar da nossa sede utilizando como desculpa o barulho, conta pai Beto.

A polícia foi acionada e o indivíduo conduzido à delegacia de Campo limpo Paulista. Um boletim de ocorrência foi realizado e agora um processo foi aberto justamente por ‘intolerância religiosa’.
“Já fui chamado antes no Ministério Público e por ordem judicial tive que me adequar colocando isolamento acústico nas paredes e tive que adequar o horário dos cultos para encerrar às 22h no sábado.

Mas vale lembrar que existem várias chácaras de aluguel nas proximidades e nunca houve reclamação por parte do agressor e que as paredes do templo estão a dois metros de distância de um vizinho que diz não se sentir incomodado com o ” barulho” e estamos a mais ou menos 15 metros do agressor que se diz incomodado, confirmando ainda mais que não se trata de”barulho” e sim um ato de intolerância”, lamenta.

Segundo ele, o espaço é visitado por estudantes de universidade e por várias pessoas de outras crenças que buscam palavras de conforto ou apenas para conhecer a cultura afro-brasileira. “Eu acho que a ignorância leva ao preconceito. O ideal seria a pessoa conhecer para depois opinar. É lamentável e inaceitável um ato de intolerância nos dias de hoje.”

Para o presidente da Associação União Beneficente e Cultural das Comunidades de Jundiaí e Região (Uni Terreiros), Gihad Ahmid Abou Abbas, nos últimos anos a associação tem se deparado com um crescente aumento de denúncias de ocorrência de crime de intolerância religiosa, desde as mais veladas e agressivas, como também aquelas mais comuns feitas nas entrelinhas e nos comentários ofensivos de pessoas que professam fé diversa.

São comuns as pichações com dizeres de outras religiões nas portas e muros, até aquelas que fazem denúncias falsas à autoridade policial, com o objetivo de atrapalhar ou mesmo impedir a realização das giras. Em relação aos casos mais graves, felizmente são poucos, mas ainda assim assustam pela violência contida no ato, nas palavras dos agressores.

O primeiro caso grave de atuação da UniTerreiros contra a intolerância religiosa se deu logo no seu surgimento, em dezembro de 2017, quando no ato comemorativo em homenagem ao Dia da Umbanda, promovido pelo vereador Dr. Paulo Sérgio, na Câmara Municipal de Jundiaí, os umbandistas e candomblecistas presentes no local foram vítimas de ato de intolerância religiosa cometido pelo vereador Roberto Conde.

“Sem deixar de mencionar que, por diversas vezes, somos chamados de macumbeiros em tom ofensivo, jocoso, o que não podemos permitir. No caso da prática com cometida pelo vereador, a UniTerreiros ingressou com as representações junto à Câmara Municipal e o Ministério Público do Estado de São Paulo, tendo sido o então vereador pastor condenado ao pagamento de multa pela prática dos atos.”

Ele diz que é impossível compreender a conduta de um agressor. Preferem acreditar que se trata de desconhecimento de muitas pessoas acerca das religiões de matriz africana. “É salutar reconhecer que o preconceito e a intolerância existem e fazem parte das nossas vidas.

Por isso todos nós, umbandistas, candomblecistas e adeptos e simpatizantes das religiões de matriz africana, temos a responsabilidade de defender uns aos outros, tornando-nos mais unidos e fortalecidos, como forma de combate ao preconceito e à intolerância. Tudo isso evidencia o necessário e urgente trabalho que temos desenvolvido através da UniTerreiros, a fim de tornar nossa religião mais conhecida e principalmente respeitada por todos.”

FONTE: Portal Jornal Jundiaí em 27/01/2019

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