Justiça impõe retratação pública a auditora após difamação contra ialorixá

Divulgação


Por Yuri Silva

“É uma decisão histórica, que vai virar jurisprudência para outros casos parecidos de intolerância religiosa”. É assim que a advogada Maria Aparecida Farias Sanches define a retratação que o juiz Edson Souza, da 3ª Vara dos Juizados Especiais Criminais, impôs à auditora fiscal Maria de Fátima Moraes Ferreira por difamar nas redes sociais a ialorixá Almerinda de Nanã e Xangô.

Ex-filha de santo da casa, a autora do crime será obrigada, por causa do ato, a ler uma carta pedindo desculpas às vítimas. Além da sacerdotisa, dois filhos de santo também foram ofendidos pela ré, inclusive com termos homofóbicos.

O ato de retratação acontecerá neste sábado, 28, às 14h, na Fraternidade Umbandista Cavaleiros de Aruanda (Fuca), terreiro de mãe Almerinda localizado no Parque São Cristóvão.

Segundo a advogada das vítimas, Maria Aparecida Farias Sanches, as ofensas “eram horríveis” e incluíam termos que associavam as entidades cultuadas no templo ao diabo. A decisão do juiz, conta a advogada, seguiu exigência da ialorixá, que não quis receber dinheiro de danos morais.

“Ela pediu uma retratação em jornal de grande circulação, mas isso daria R$ 200 mil, e a autora do crime alegou que não tinha dinheiro, então chegamos a um acordo para essa leitura da retratação”, explicou a jurista defensora das vítimas.

Processo

Nos autos do processo, a defesa da auditora fiscal chegou a alegar que o crime teria sido cometido porque ela é bipolar. Na decisão emitida no último dia 27 de setembro, no entanto, o juiz Edson Souza determinou que o cumprimento do acordo seja registrado e encaminhado aos autos, para nova deliberação.

Para a ialorixá Almerinda de Nanã e Xangô, as agressões sofridas da ex-filha de santo chegaram “com tristeza”. Após o resultado da ação judicial que moveu contra a agressora, ela se disse “acolhida e amparada pela Justiça”.

“Recebi essa decisão com muita felicidade porque não é comum a gente ser tão acolhido como eu fui”, afirmou a líder religiosa, dizendo que “todos que estão sofrendo intolerância religiosa no país deveriam buscar ajuda na Justiça, que está aí para isso”.

“Nunca podemos nos calar”, defende ela, em tom firme. “Sempre digo que não quero que me tolerem, quero que me respeitem, porque tenho o direito de professar minha fé e as pessoas são obrigadas a respeitar isso”, disse a ialorixá.

FONTE: Jornal A Tarde em 27/10/2017

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.