Menina apedrejada após culto de candomblé aprova redação do Enem

Os milhões de estudantes que prestaram neste domingo o segundo e último dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foram convidados a refletir em suas redações sobre “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”. Considerado sensível e atual, o tema foi elogiado por professores, religiosos e pelos próprios participantes do concurso. O tema da redação reacende histórias como a de Kayllane Campos, menina que levou uma pedrada após sair de uma festa de candomblé no ano passado vestindo a indumentária de sua religião, na Vila da Penha.

Na época, Kayllane tinha 11 anos e, até quando foi ao Instituto Médico Legal (IML) prestar exame de corpo de delito sobre o caso, ouviu insultos na rua, como “vai queimar no inferno” e “macumbeira”. Agora, ela espera que o assunto ganhe mais atenção em entre os jovens.

— Esse tema ainda é muito pouco debatido nas escolas. Na minha, por exemplo, nunca tocam no assunto — conta Kayllane, hoje com 13 anos. — Isso é muito bom para provocar uma reflexão entre aqueles que praticam o preconceito desde cedo sem ao menos conhecer as religiões.

Avó da garota, Kátia Marinho, que acompanhou todo o processo e fez campanhas contra a intolerância religiosa nas redes sociais, também enxergou a redação do Enem como uma oportunidade.


— Será um termômetro sobre o que os jovens pensam sobre o assunto — prevê ela. — Esperamos que os candidatos expressem ali o que representa ser intolerante num país que é laico e como isso pode prejudicar o amanhã. É muito importante que essa questão seja levantada justamente num momento em que todos estão pensando no futuro. Até quem não é ligado a uma religião, precisará refletir sobre isso.


LÍDERES RELIGIOSOS ELOGIAM

O tema também foi celebrado entre líderes religiosos. Para o babalaô Ivanir dos Santos, que é porta-voz da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, o tema significa um “grande passo para sociedade brasileira”.

— Precisamos buscar caminhos de respeito à diversidade, assim como o fortalecimento da democracia. Afinal, estamos preocupados sobre como a intolerância tem crescido e cerceado os direitos de integrantes de religiões de matriz africana e não-hegemônicas — comentou ele, enfatizando que a redação fará com que milhões de jovens reflitam sobre o assunto.

Lusmarina Campos Garcia, pastora da Igreja Luterana que integra a diretoria do Conselho das Igrejas Cristãs do Estado do Rio, também elogiou a escolha.

— Há um investimento de algumas instituições em difundir a intolerância, seja no campo religioso ou em esferas como a sexualidade humana e a política. Então, cabe às organizações trabalharem numa perspectiva diferenciada para combater isso — avaliou ela. — E a juventude é um campo fértil, com muita energia para acolher esse ideal e transformar realidades.

O pastor da Igreja Batista Betânia Neil Barreto também elogiou a escolha

— Não há como construir uma sociedade sem tolerância, e este tema está muito em voga. Fico muito feliz que os jovens que estão fazendo o Enem sejam levados a pensar sobre isso — avaliou ele.


FONTE: Jornal O Globo em 07/11/2016

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