Audiência pública na Alerj vai discutir intolerância religiosa com Freixo e Beltrame

Muito se falou do caso Kailane Campos, menina de 11 anos, que foi vítima de intolerância religiosa, dia 14 de Junho, no Subúrbio do Rio, e ainda nessa frente, o interlocutor da CCIR (Comissão de Combate a Intolerância Religiosa) Babalawo Ivanir dos Santos, apresenta um documento, que tem por objetivo evidenciar situações de preconceito, discriminação, violência verbal e física inseridas no campo da intolerância religiosa no Brasil. E a partir dos casos relatados, estudos, pesquisas, entre outros modos, contribuir para a implantação do Plano Nacional de Liberdade Religiosa.

O Relatório centraliza-se no desafio da Intolerância Religiosa, apresentando as diferentes visões das instituições que integram a CCIR.

A pesquisa está pautada em dez documentos elaborados entre 2004 a junho de 2015, encaminhados a CCIR com o objetivo de mostrar a intolerância religiosa como um processo histórico no Brasil e no mundo. Para isso, foram selecionados casos obtidos em registros administrativos, narrativas, depoimentos, entrevistas, notícias e mídias impressa e virtual. As unidades espaciais vão desde a escala local, municipal, estadual, regional e nacional.

Como metas:

- Explicitar os diversos casos de intolerância religiosa;

- Tornar público a necessidade de uma intervenção no processo;

- Contribuir para a defesa da garantia dignidade de ser da pessoa humana;

- Expandir o debate relativo à pluralidade religiosa e a liberdade de culto no país;

- Contribuir para construção de bases de dados, compatibilizando as diversas fontes de informação sobre o desafio da liberdade religiosa;

- Criar possibilidades para o diálogo multi-religioso no país.

Apontamos casos que mais chamam atenção: Em 2015, em pleno século XXI, no RJ, uma pedrada atinge uma menina, pelo simples motivo de está com vestuário de camdomblé, ou seja, vestida toda de branco.

Caso AABB - No interior do Clube AABB Lagoa, realizavam-se as Macabíadas (jogos olímpicos que reúnem clubes e colégios judaicos de todo o país). Numa das dependências do clube onde havia um aparelho de televisão, um sócio do clube, descontente com a locação para a comunidade judaica, travou uma agressiva discussão com um grupo de crianças vindas de SP em razão da discordância quanto ao canal que desejava assistir. Nesta discussão, o Querelado proferiu ofensas de cunho antissemita contra as crianças, chamando diversas vezes de "judeus filhos da puta"" e dizendo "eu sou muçulmano e odeio vocês!" e "vocês têm que morrer!".

Outro caso - Uma semana após o assassinato dos cartunista francês Charlie Hebdo, a professora de teatro Sarah Ghuraba, muçulmana de 27 anos, caminhava para a consulta médica quando levou uma pedrada na perna. Junto ao ataque físico veio o verbal: "muçulmana maldita!", disse o desconhecido, que a atacou somente por ser muçulmana e, logo em seguida, fugiu correndo. Ao relatar o caso no Facebook, para alertar outras muçulmanas para que tivessem cuidado, recebeu algumas mensagens solidárias, mais várias outras ofensivas: "falaram que eu deveria ter levado um tijolo na cabeça e outros prometeram terminar o trabalho. É assustador. Será que uma muçulmana brasileira precisa morrer para entenderem que existe islamofobia no Brasil? (...)"

Em 21 de janeiro de 2009 - a Ialorixá Gildásia dos Santos (Mãe Gilda), faleceu de infarto fulminante ao ver sua foto estampada na capa do Jornal Folha Universal, com o título: Macumbeiros Charlatões lesam o bolso e a vida de clientes.

Caso Ana Amélia Mello Franco - A Federação Israelita do Rio de Janeiro ingressou com uma notícia-crime perante o Ministério Público Federal contra a então candidata a deputada estadual Ana Amélia Mello Franco, pelo Partido Popular Socialista (PPS), em virtude de postagens antissemitas feitas em seu perfil pessoal na rede social Facebook, entre os dias 24 e 28/07/2014.

Caso Jornalista Pedro Costa (data...) - moradores de condomínios vizinhos, na Barra da Tijuca, envolvidos em uma controvérsia em torno do uso de uma servidão de acesso à praia, cuja abertura fora obtida na Justiça. Certa vez, o Querelado, começou a destruir o muro que impedia o acesso do condomínio Varandas à servidão. O fato chamou a atenção de moradores do outro condomínio, que, ao se dirigirem para o local e pedirem para que parasse de destruir o muro, foram verbalmente ofendidos por Pedro Costa, que começou a esbravejar diversas ofensas contra as vítimas e todos os moradores de origem judaica, além de outros de origem não judaica.

Em Goiás, Maio de 2012 - O jovem Rafael de Araújo Teixeira de 19 anos, que se dizia da "Igreja de Cristo", tentou quebrar a marretadas a imagem de uma santa católica que havia sido colocada pela prefeitura da cidade de Águas Lindas de Goiás na Avenida JK, na entrada do Jardim Brasília.

Já em Manaus - em novembro de 2012 - Representantes da Secretaria de Educação do Estado do Amazonas (Seduc) se reuniram com a direção da Escola Estadual Senador João Bosco, em Manaus, para discutir sobre os alunos evangélicos que se negaram a fazer um trabalho sobre a cultura africana. Os alunos entendem que o trabalho passado a eles "faz apologia ao satanismo e ao homossexualismo", proposta que contraria a crença deles.

Esses e muitos outros casos serão apresentados. Essa é a oportunidade de dar conhecimento acerca de casos de intolerância religiosa e discriminação à sociedade brasileira na audiência pública. Direcionado para a Sociedade Civil, Imprensa e Parlamentares.

A frente de estudo: Ivanir dos Santos, mobilizador e coordenador da equipe do "Relatório de Intolerância Religiosa. A Visão da CCIR e Visões das instituições que integram a CCIR". Brasileiro, carioca, cor preta, gênero masculino, candomblecista, 61 anos. Interlocutor CCIR; Conselho Executivo do CEAP; Mestrando em História Comparada UFRJ; Conselho Consultivo Cais do Valongo; Pesquisador do LHER.

- Graças Nascimento, brasileira, carioca, cor parda, gênero feminino, sem definição de religião, 66 anos - Coordenadora do Movimento Inter religioso do Rio de Janeiro - MIR; Graduada em Estatística na Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE; Msc. Engenharia de produção COPPE-UFRJ (1976); Integrante da CCIR; Consultora em planejamento estratégico.

- Juliana Cavalcanti, brasileira, carioca, cor parda, gênero feminino, católica, 24 anos. Pesquisadora do laboratório de historia das experiências religiosas (LHER/UFRJ); Bacharel e Licenciada em História e mestranda em História Comparada (PPGHC/ UFRJ).

- Mariana Gino, brasileira, de Juiz de Fora, cor preta, gênero feminino, sem definição religiosa, 28 anos. Professora de Ensino Religioso, especialista em ciência da religião UFJF, Bacharel em Teologia ITASA-CES/JF, Bacharel em História UFJF, licenciada em história UFJF, integrante dos grupos de pesquisas Afrikas-UFJF e Religião e Modernidade PUC-MINAS, membro do setor de comunicação do coletivo CANDACES - Organização de Mulheres Negras e Conhecimento.

- Vítor Almeida, brasileiro, carioca, cor preta, gênero masculino, sem definição religiosa, 31 anos. Pesquisador do laboratório de historia das experiências religiosas (LHER/UFRJ); Bacharel em História e mestre e doutorando em História Comparada UFRJ.

Audiência Pública, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ)

Nesta terça-feira, dia 18 de agosto - Das 10h, às 13h

Rua: Primeiro de Março, s/n - Centro/Praça XV

Intolerância Religiosa X Democracia.

Tema: Entrega do relatório da Comissão de combate a Intolerância Religiosa

A mesa será composta com

- Marcelo Freixo - Dep Estadual e Pres. da Comissão de defesa dos direitos humanos e cidadania da ALERJ

- Marta Rocha - Dep. Estadual e Presidente da Comissão de segurança e assuntos de policia da ALERJ

- Fernando Veloso - Chefe da Policia Civil

- José Mariano Beltrame - Secretaria Estadual de Segurança Publica

- Márcio Mothé - Sub promotoria de direitos humanos do Ministério Público

- Fábio Amado Barreto - Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública

- Teresa Cosentino - Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos

- Ivanir dos Santos - interlocutor da CCIR

Além de convidados como Kátia Marinho (Yalorixá / avó Kailane Campos) / Diácono Nelson - Igreja Católica / Sami - Associação Beneficente Muçulmana / Reverendo Marcos Amaral - Igreja Presbiteriana / Pastora Lusmarina - CONIC / Paulo Maltz - Presidente da FIERJ - Federação Israelita do Rio de Janeiro.

CCIR - Comissão de Combate à Intolerância Religiosa

CEAP - Centro de Articulação de Populações Marginalizadas

CONIC - Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil

MIR - Movimento Inter religioso do Rio de Janeiro

FONTE: Jornal do Brasil em 15/08/2015

Um comentário:

  1. Ótima proposta ! Acho essencial uma ideia como essa. No Brasil atual creio que se fala muito pouco nas midias a respeito dessas atitudes preconceituosas e intolerantes. Por esse motivo que se vê nas ruas pessoas dizendo que intolerância religiosas não existe em nosso país. Infelizmente existe sim e por isso esse projeto é necessário. Parabéns aos idealizadores !

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