RJ lidera denúncias de discriminação religiosa contra crianças: 16 em 4 anos




Jovem de 11 anos foi agredida no domingo (14) com pedrada (Foto: Reprodução/TV Globo)



No domingo, menina levou pedrada na cabeça quando voltava de ritual.
Números são da Secretaria de Direitos Humanos, registrados até 2014.

A agressão a uma criança de 11 anos no último domingo domingo (14), atingida por uma pedrada quando voltava de um ritual de candomblé, expõe um problema que é mais comum no Rio de Janeiro do que em outros estados do país, segundo dados da Secretaria de Direitos Humanos (SDH): a intolerância religiosa.

Um levantamento feito pelo G1 com números de 2014 do Disque 100, que recebe telefonemas anônimos sobre vários tipos de violência (da doméstica à homofobia), mostra que o estado liderou naquele ano o registro de denúncias relacionadas à religião em todas as faixas etárias. Além disso, entre 2011 e 2014, o Rio foi a unidade da federação com maior número de discriminação religiosa contra crianças e adolescentes.

Durante esses quatro anos, foram 16 denúncias de intolerância religiosa contra os jovens. O segundo estado com maior número de casos nesta faixa etária é São Paulo, com 11. Em terceiro, aparecem Bahia e Ceará, com menos da metade das denúncias do Rio: sete.

Os dados do Disque 100 vão somente até 2014 – já que são divulgados somente ao final do ano em curso. Naquele ano, o Rio também ficou à frente no ranking geral. Entre todas as idades, foram 39 denúncias. O registro é o maior em números absolutos, mas também é o maior na proporção de denúncias por 100 mil habitantes: 0,24. A inglória primeira colocação foi alcançada após um aumento considerável de casos no estado. De 2011 para 2012, saltou 500%; e de 2012 a 2013, 116,67%.

No ano seguinte, os registros ficaram estáveis no estado e diminuíram em São Paulo – até então o estado com mais casos de discriminação religiosa. Com isso, o Rio acabou passando à frente.

Segundo a pesquisa, a maior incidência de registros ocorre entre vizinhos. No entanto, não são raros os casos entre pai, mãe, familiares próximos e até mesmo professores e diretores de colégio. Outro dado curioso mostra que, muitas vezes, a discriminação acontece na casa da vítima. A rua, como foi o caso da jovem de 11 anos do último domingo, fica em segundo lugar.

'Fecho o olho e vejo tudo de novo'
A marca da violência está na cabeça de Kailane Campos, que é candomblecista e foi apedrejada na saída de um culto, na Vila da Penha, Subúrbio do Rio, no último domingo (14).

“Achei que ia morrer. Eu sei que vai ser difícil. Toda vez que eu fecho o olho eu vejo tudo de novo. Isso vai ser difícil de tirar da memória”, disse nesta terça-feira (16) a menina de 11 anos.

Na delegacia 38ª DP (Brás de Pina), o caso foi registrado como preconceito de raça, cor, etnia ou religião e também como lesão corporal, provocada por pedrada. Os agressores fugiram em um ônibus que passava pela Avenida Meriti, no mesmo bairro. A polícia, agora, busca imagens das câmeras de segurança do veículo para tentar identificar os dois homens.

A avó da criança lançou uma campanha na internet e tirou fotos segurando um cartaz com as frases: “Eu visto branco, branco da paz. Sou do candomblé, e você?”. A campanha recebeu o apoio de amigos e pessoas que defendem a liberdade religiosa. Uma delas escreveu: “Mãe Kátia, estamos juntos nessa”.


FONTE: G1 de notícias em 17/06/2015

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