Filha de santo acusa vizinho de intolerância religiosa

Uma filha de santo de 67 anos, acusa o vizinho, em Feira de Santana (a 109 km de Salvador) de intolerância religiosa. O caso ocorreu no bairro do Tomba, onde a vítima, Antônia Barbosa de Souza, que é adepta do candomblé, e o suspeito, José Roque da Silva, que é evangélico, moram, e desde 2011 travam uma batalha judicial, onde rolam processos com acusações de ambos os lados. Nesta terça-feira, 29, às 9h30, na Vara Crime do Fórum Felinto Bastos, os dois se encontrarão para mais uma audiência do caso. As quatro primeiras foram de conciliação, mas sem acordo. Na audiência desta terça, a idosa é acusada por uma suposta ameaça de morte contra o vizinho.
Segundo informações de Lourdes Santana, presidente do Conselho das Comunidades Negras e Indígenas, e do Núcleo Odunge, de combate a intolerância e ao racismo, de Feira de Santana, várias entidades e associações fazem uma manifestação às 8h30 no fórum, para dar apoio à vítima e protestar contra a atitude do vizinho de dona Antônia, considerada intolerante. "São oito ONGs, além do Conselho do Idoso e da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen) e o Coletivo das Entidades Negras (CEN). Cerca de 30 representantes do candomblé se concentrarão em frente ao fórum em defesa de uma mulher negra e analfabeta", salientou.
Cassilda Miranda, presidente do Conselho do Idoso, diz que o órgão sai em defesa de dona Antônia Barbosa, já que ela não tem estudos e nem forças para se defender. "Ela mora só e é frágil. Ela não veste roupas da religião e quase não vai a terreiros. Vem sendo agredida verbal e fisicamente pelos vizinhos. Várias queixas foram prestadas, mas a polícia julga como briga de vizinhos. Ela foi orientada a se mudar, mas a casa é própria. Ela nos procurou e pediu ajuda, pois não aguenta mais", lamentou.
Sel Souza, filha de Antônia Barbosa, alega que a mãe, de vítima passou a ré. "Ela já pagou seis meses de cestas básicas de R$ 688 por conta de um dos processos que ele (vizinho) moveu contra ela. Porém, ela é agredida quando sai, é chamada de feiticeira. Do bate-boca partiu para a agressão física. Tudo começou por causa do incenso. Ela joga folhas em toda casa, queima pólvora e depois lava a casa. Esse ritual não exala cheiro e nem barulho porque a casa é forrada. É o único ritual que ela pratica. Minha mãe não faz mal a ninguém", defendeu.
O suspeito de praticar intolerância religiosa, José Roque da Silva, que mora na casa de número 17, ao lado de dona Antônia Barbosa, foi procurado pela reportagem, mas não estava em casa. A mulher dele, que não se identificou, limitou-se a dizer que ele foi orientado pelos advogados a não comentar o caso.
Nas redes sociais o caso ganhou repercussão. Para os internautas, dona Antônia Barbosa de vítima virou ré. É o que afirmou José Carneiro em sua página pessoal. "A intolerância é tão grande que, muitas vezes, as vítimas figuram como réus", comentou. O historiador e jornalista feirense Edvaldo Goés lamenta a suposta perseguição. "Acredito que a perseguição física, mesmo que ainda praticada por alguns grupos, estão reduzidas. Mas, minha preocupação recai também sobre a perseguição ideológica, que se estende aos terreiros, inclusive", postou.

FONTE: Portal A Tarde em 28/07/2014

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