'Música do candomblé não tem que ficar presa ao terreiro', diz idealizador do projeto Pradarrum
Tão sonoro quanto o nome, o projeto “Pradarrum”, lançado neste final de
semana em Feira de Santana, firma raízes na matriz musical
afro-religiosa da Bahia. Idealizado e dirigido pelo experiente músico,
arranjador e pesquisador de ritmos Gabi Guedes – integrante da Orkestra
Rumpilezz e da banda base do Jazz no MAM-BA –, juntamente com o seu
sobrinho, o jovem guitarrista e arranjador musical Felipe Guedes, o
projeto pretende mostrar a música do candomblé em sua plena conexão com a
“world music”.
E o que significa Pradarrum? “’Rum’, a última palavra, é o atabaque
maior, que tem a responsabilidade de evocar os orixás e, também, com
suas variações, acompanhar o movimento da dança. ‘Darrum’ é quando o
Ogan toca e canta para evocar os orixás: Você está dando "rum" ao orixá.
Aí vem, o "adarrum", que é um ritmo sagrado que faz parte da religião
do candomblé. O "pra" pode ser um paó, que é quando você tem duas notas
quase que simultaneamente repetidas três vezes e é uma forma de
agradecer. E aí, dentro de tudo isso, conseguimos essa palavra, que é
bem sonora e é tudo isso junto”, explicou Gabi, em entrevista ao Bahia
Notícias.
Nos próximos finais de semana, as cidades de Salvador (24, no Teatro
Solar Boa Vista) e Santo Amaro (30, no Teatro Dona Canô) também
receberão o projeto, que é integrado por oficinas e shows e foi
contemplado pelo edital da Fundação Cultural do Estado da Bahia
(Funceb). “A ideia é mostrar essa possibilidade de tocar as coisas que
são do candomblé fora dos terreiros; tudo isso sem ferir muito o lado da
religião, sem apresentar muito a coisa”, contou Gabi. Por isso, os
temas das oficinas vão desde os toques de atabaques no ritmo de
candomblé, passando pela construção de cuícas e consultoria para
elaboração de projetos tal qual o próprio Pradarrum.
Durante a conformação do projeto, cerca de quatro computadores foram
destruídos– “sem exagero!”, dizem em uníssono os músicos. Por outro
lado, foi a partir daí que o projeto “Pradarrum” começou a ganhar forma e
hoje já aparece como prenúncio de um disco homônimo. “Temos a
necessidade de não deixar que esses ritmos desapareçam com o
conhecimento de outros ritmos. Eu acredito que aqui na cidade, 80% dos
músicos, na categoria de percussão e bateria, não conhecem a
musicalidade do candomblé, do terreiro”, deduziu. Para Gabi, o alto
índice de desconhecimento é gerado pelo preconceito. “A música do
candomblé não tem que ficar presa ao terreiro porque é do candomblé; é
uma música do povo. A Igreja vive agradecendo. E nós, que somos
natureza, temos muito a agradecer, sabe? A cantiga do candomblé, a
música do candomblé, toda essa espiritualidade é para você agradecer o
ar que você respira, o marzão, todas essas árvores, os rios...”,
sintetizou.
Mas a síntese do projeto está mesmo em Felipe Guedes, que sem pertencer
a nenhuma religião está ligado à proposta devido à música. “Eu tenho um
pé lá outro cá justamente pela música. E essa é a linguagem do
Pradarrum”, explicou. E apesar de as oficinas não serem voltadas para o
público infanto-juvenil, este público não está vetado a participar.
“Afinal, no terreiro é assim. Desde pequenos, via oralidade, as crianças
vão aprendendo a tocar. Nem pedem para tocar e já vão batendo no
instrumento”, defenderam.
FONTE: Bahia Notícias Entretenimento em 19/03/2013
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