Grupos afro defendem mais liberdade religiosa no Pará

Umbandistas ainda se sentem perseguidos em suas manifestações

Um batuque de atabaque e agogô subiu a avenida Presidente Vargas, na manhã de ontem, encabeçando a Caminhada Estadual pela Liberdade Religiosa, evento que reuniu membros de diversos terreiros da capital paraense, que se uniram para exigir tolerância à cultura afrobrasileira. Os participantes ainda empunharam faixas que pediam o afastamento do deputado federal Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) da presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal. Para eles, o deputado, que teria proferido frases de cunho racista e homofóbico nas redes sociais, deve sair da Comissão de Direitos Humanos, um tradicional ponto de resistência das minorias na Câmara dos Deputados. A caminhada ainda fez alusão ao Dia Municipal e Estadual da Umbanda e Cultos Afro no Pará, comemorado hoje.
A passeata começou no meio da manhã, com saída da Escadinha do Cais do Porto, ao lado da Estação das Docas. As faixas mostravam a diversidade de opiniões: "Acredito no meu orixá", "Orgulho de ser angoleiro" e "Fora Feliciano". A cultura negra estava representada não apenas nas palavras de ordem e mensagens, mas também nos cabelos enfeitados com tranças e contas e nos colares coloridos que representam as entidades afrorreligiosas (guias) e em toda a indumentária que remete aos cultos afro. "Queremos a saída do Feliciano da Comissão de Direitos Humanos, ele não nos representa", disparou o umbandista Rilkim Rodrigues, 55, vestido com uma bata.
Realizada pelo Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afrobrasileira (Intecab), a caminhada contou com a parceria dos movimentos homossexual e estudantil. "Tudo para termos um olhar de respeito a todos os diferentes", disse o babalorixá Pai Tayandô, quando a passeata passava pela avenida Presidente Vargas. Para ele, uma das formas de luta dos afrorreligiosos ainda é o voto. "Temos de aproveitar as próximas eleições para escolher políticos que nos representem e que tenham a vivência dos afrorreligiosos".
Apesar da matriz negra na cultura brasileira, o Brasil ainda vive um "contexto de preconceito no seio da sociedade", argumentou o presidente do Intecab, Fábio Andrade. "Esse é um culto à união e à diversidade. Por isso temos comunidades de terreiro, estudantes, representantes LGBT", completou Fábio, enquanto, no trio elétrico, se entoava um ritmo semelhante ao do grupo baiano Olodum. Mais atrás, o babalorixá Pai Gilmar Oxóssi, do terreiro de Mina Morada de Oxóssi, conduzia 28 pessoas de seu terreiro. "Não quero que me tolerem, quero que respeitem, quero políticas públicas para o povo de terreiro". Já passava do meio-dia quando a caminhada deu a volta na Praça da República, no encerramento do evento.

FONTE: O Liberal em 18/03/2013

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