Um pacto contra a intolerância religiosa


Um grito de indignação ressoou, ontem, pelas salas do Ministério Público de Pernambuco (MPPE). Representantes dos povos de terreiro do Estado assinaram uma carta de repúdio ao desrespeito contra as crenças de matriz africana e pediram o apoio do órgão na luta pelo fim da intolerância religiosa. O governo, através do Comitê de Estadual de Promoção da Igualdade Étnico Racial (Cepir), pediu desculpas a pais e mães de santo e lançou uma cartilha sobre diversidade religiosa e direitos humanos. O material será distribuído nos principais eventos promovidos pelo Estado, em escolas e para a sociedade em geral.

O encontro aconteceu três dias depois de um grupo de evangélicos realizar protesto e ameaçar invadir terreiro no bairro do Varadouro, em Olinda, Grande Recife. Com faixas e gritos ofensivos, os manifestantes, dizem integrantes do terreiro e vizinhos, tentaram entrar no espaço. A movimentação foi registrada em um vídeo hospedado no YouTube pelo filósofo e babalorixá Érico Lustosa, que reside ao lado do terreiro. A igreja que promoveu o ato ainda não foi identificada.

"Pernambuco não pode ser conhecido como um lugar de violência religiosa. O Estado é laico, mas não podemos deixar esse tipo de intolerância continuar", afirmou o secretário-executivo do Cepir, Jorge Arruda.

O sinal vermelho da intolerância religiosa foi aceso há uma semana, quando pessoas invadiram terreiros na comunidade de São Domingos, em Brejo da Madre de Deus, no Agreste, depois de a polícia ter divulgado que entre os suspeitos do assassinato do garoto Flânio da Silva Macêdo, 9 anos, estavam três pais de santo. Durante o encontro, ontem, os adeptos das religiões afro-brasileiras deixaram claro que o local onde ocorreu o crime, que dizem ser destinado a rituais afros, não está cadastrado no Cepir e o que ocorreu nada tem a ver com as bases da crença.

"Nosso bem maior é a vida humana. Esse preconceito contra nossa crença é criminoso. Nossa religião precisa ser respeitada", destacou Mãe Elza de Iemanjá, representante do Conselho de Povos Tradicionais de Terreiro, vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos.

O material didático elaborado pelo Cepir aborda temas relativos às principais características das religiões do mundo, com enfoque para as de matriz africana. Uma cartilha também foi elaborada para ser trabalhada dentro das salas de aula. O livreto é direcionado aos educadores e se propõe a traçar alternativas para enfrentar o preconceito religioso no campo educacional.

A cartilha destaca a essência da religião afro-brasileira e os temas tratam do respeito à natureza e à vida humana, a valorização da vida em comunidade, considerada indispensável para compreender o mundo e agir nele, o cuidado e zelo com os idosos e o valor da oralidade, como forma de preservar a tradição religiosa.

O promotor do MPPE Marco Aurélio Farias destacou a importância do órgão estar sempre alerta para as práticas que denotem postura de intolerância religiosa. "Temos que reafirmar nosso compromisso com essa luta, que é histórica", destacou.

O representante do Ministério Público destacou a importância do serviço que recebe denúncia no órgão e que pode ser utilizado para registrar casos de preconceito religioso ou racial. O telefone é             0800 281 9455      .

REPERCUSSÃO

A matéria Evangélicos tentam invadir terreiro em Olinda, publicada ontem no JC Online, alcançou 130 mil visualizações e mais de 1,4 mil comentários até o início da noite de ontem. A reportagem é a mais lida desde o lançamento do site, em 5 de abril do ano passado. Nas redes sociais, o assunto também ganhou destaque. No Facebook, mais de 11 mil pessoas curtiram a notícia. No Twitter, o assunto também foi debatido ao longo do dia.

FONTE: JC Cidades em 19/07/2012

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