Professor sugere república de ateus para conter intolerância religiosa

O professor Renato Lessa (foto), titular de teoria política da UFF (Universidade Federal Fluminense),  escreveu um artigo dizendo que “uma república de ateus é não só viável, mas pode ser uma condição necessária” para garantir a laicidade do Estado e proteger a sociedade da intolerância religiosa.

“Trata-se de uma tese que pode chocar o leitor, pela aparente ausência de espiritualidade, mas pode ser interpretada de modo inverso: a garantia de incolumidade diante do que creio só pode ser dada se sou protegido da intolerância promovida por outras crenças”, disse ele em artigo publicado ontem (4) no caderno “Aliás,” do jornal O Estado de S.Paulo.

“Só pode fornecer tal garantia [contra a intolerância] um Estado indiferente a todas as crenças e, neste sentido, desespiritualizado”, acrescentou.

Após citar o ensaísta francês Michel de Montaigne (1533-1592), entre outros, como sendo um dos primeiros a denunciar o horror da religião de Estado, Lessa se mostrou preocupado com a pregação conservadora da Frente Parlamentar Evangélica e seu poder crescente no governo, por intermédio da coalização partidária que acabou de garantir um ministério ao senador e pastor Marcelo Crivella, da Igreja Universal.

“A unção ministerial do senador Crivella, para além do que possui de autoevidente, é portadora de presságios ainda mais preocupantes do que o usual.”, escreveu. “Se associada a episódios recorrentes da ação da liga evangélica na política nacional, sugere ameaça à república laica.”

A ideia de uma república de ateus é polêmica. Além de ser rechaçada por parte dos próprios céticos, ela causa arrepios nos líderes religiosos porque eles entendem que esse regime de governo é contra as crenças. Na definição de Lessa, contudo, uma república descrente não seria “contra” as religiões, mas “indiferente”.

Quando se fala de governo liderado por ateus, religiosos e políticos de direita sempre lembram, entre outros, o regime ditatorial soviético, principalmente na época de Stalin, que matou milhões de opositores.

Essa é outra polêmica, porque se trata de uma argumentação equivocada ou de má-fé, porque nenhum ditador matou em nome do ateísmo, independentemente de sua cor ideológica, mas tendo como bandeira o socialismo, no caso de Stalin, ou seu projeto pessoal de poder.

Talvez Lessa esteja superestimando o poder da direita evangélica. Ou não. De qualquer maneira, ele fez uma pergunta para a qual a sociedade terá de dar uma resposta, que definirá o rumo do país:  “É razoável que crenças particulares constituam base para legislação e políticas públicas?”


FONTE: Blog Paulo Lopes em 05/03/2012

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