Intolerância religiosa e cavalo de tróia


*Florival Filho Souza

O mais novo cavalo de batalha da intolerância religiosa e do racismo no Brasil tem sido intitulado popularmente de lei do silêncio, ajustamento sonoro... ou seja, o racismo de plantão, institucional, pessoal, religioso... tem insultado e desrespeitado as religiões afro-brasileiras e, nesse sentido, tem encontrado aliados com coragem de mostrar a face no ataque luta às religiões como o candomblé e a umbanda.
Ultimamente, o país da democracia racial com seu desatualizado discurso da miscigenação e valorização cultural dos vários grupos étnicos tem visto um aumento da intolerância religiosa e da discriminação racial, levando-o a desconhecer o art. 5º da sua carta magna/constituição.
No momento em que o Estado brasileiro, discursa na carta magna com a igualdade entre todos, mas tem no seu corpo institucional uma composição majoriatariamente eurodescendente, ele se contradiz e ao mesmo tempo, corrobora com a efetivação de políticas públicas que privilegiam apenas esse grupo étnico. 
Não há necessidade de o Estado brasileiro importar políticas como aconteceu na Bósnia ou em Ruanda em que os grupos étnicos Tutsis e Utus enfrentaram-se até o genocídio. Isso talvez sirva de reflexão para o atual momento em que religiosos cristãos, outrora vitimas da perseguição religiosa na Europa, cometem atualmente a mesma vil política contra o candomblé e a umbanda e o Estado parece não enxergar.
O Estado brasileiro precisa apoiar iniciativas institucionais direcionadas aos grupos menos privilegiados da sociedade e fortalecer as ações legislativas, judiciárias e executivas de proteção que se destinam a esses grupos e suas culturas, não importando o credo ou classe social, pois ao eximir-se o Brasil encontrar-se-á na condição de país intolerante e racista.
A proximidade entre os grupos étnicos no Brasil deve servir de exemplo do modus operandi brasileiro de construção de uma nação democrática de direito, e não ser exemplo de apartheid, subjugação, desvalorização ou destruição de direitos adquiridos historicamente após muitas lutas.
No entanto, se os inimigos de plantão encontram apoio no racismo institucional, é CHEGADA A HORA de todos(as) sem exceção, que sofrem o racismo e a intolerância religiosa, mostrar a face, empunhar o Oxê(machado de duas pontas) de Xangô e ir à luta. Todo e qualquer espaço é um campo de batalha, na Academia, no Terreiro, no Espaço Público, nas Repartições Públicas, nas Escolas, nos bairros... o que não podemos, enquanto membros das religiões, cultura afro, e enquanto negros e negras, é aceitar o discurso da democracia racial ou da miscigenação como solução final do racismo e da intolerância no Brasil.
Não podemos negar que este país é miscigenado, mas o Estado não pode esquecer que nesse universo de miscigenados, negros e índios são vítimas de uma política de invisibilização e discriminação racial e que somente a partir de 2003, foi criado um ministério para representar os grupos mais aviltados que não foram reparados pelas políticas de Estado desde a abolição da escravidão.
É preciso pensar que essa conquista não muda integralmente o cotidiano desses grupos étnicos e não os contempla equitativamente nos espaços de poder, seja,  municipal, estadual, federal ou privado. Sendo assim, estamos dizendo que é necessário um somatório de forças entre a sociedade civil, o poder público e o poder privado para que o Brasil seja realmente exemplo de uma democracia etnicorracial para o mundo.

* Mestre em Sociologia, especialista em Educação e Relações Etnicorraciais


FONTE: Jornal do Dia em 28/02/2012

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