Pais-de-santo na mira de possível série de homicídios

Intolerância religiosa e sexual podem estar levando religiosos à morte
A Comunidade Tradicional de Terreiro da Cidade de Manaus alerta para a possibilidade de haver uma relação entre três assassinatos, com requinte de crueldade, de três pais-de-santo, de diferentes nações, nos últimos quatro meses em Manaus. As mortes ocorreram no período de março a junho deste ano e estão sendo atribuídas, ainda, pela Comunidade à intolerância religiosa e à homofobia. Há a preocupação de que a sequência de ocorrências pode desencadear uma onda de ataques e homicídios em série.
Em um documento oficial, a Coordenação Amazônica da Religião de Matriz Africana e Ameríndia (Carma) está solicitando o acompanhamento dos inquéritos e processos dos assassinatos pela Comissão de Direitos Humanos da OAB, Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, Secretaria de Promoção de Políticas da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR) e da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça.

O coordenador-geral da Carma, Alberto Jorge Rodrigues da Silva, denuncia, no documento,  a crescente banalização e descaso por parte das autoridades policiais e do Judiciário, nos casos de crimes que envolvem pessoas pertencentes ao Povo Tradicional de Terreiro e a grupos homossexuais. Tais crimes, segundo Alberto, são geralmente atribuídos ao fato das vítimas pertencerem a esses dois segmentos e vistos sempre como se elas (as vítimas) estivessem sempre colhendo os frutos de suas escolhas sexuais e religiosas.

Segundo o coordenador, além de protocolar o documento denunciando a situação junto ao Ministério Público Federal (MPF), as entidades que compõem a Carma, em Manaus, pretendem também agendar uma audiência com o senador Paulo Paim (PT-RS), buscando levar a público nacionalmente os casos de morte em sequência na cidade. Ele citou o exemplo recente de uma tentativa de homicídio - no último sábado - na rua 16, na cumindade Vale do Sinai, Zona Norte.

“Por serem as vítimas ‘macumbeiras’ e ‘gays’ caem no rol do silêncio e do esquecimento como foram os casos dos assassinatos dos babalorixás Ruy de Xangô e Navarro da Preta Mina. Até hoje não se tem notícias dos assassinos nem dos processos”, afirmou. Alberto Jorge alerta ainda para os incentivos diretos e indiretos aos vários tipos de intolerância, tão presentes nos sermões e pregações em ambientes públicos e privados.

“Exigimos respeito, atenção e medidas legais cabíveis tanto da sociedade como um todo quanto das autoridades competentes”, afirma Alberto Jorge, citando casos de programas de televisão utilizados para incitar o ódio racial e a intolerância religiosa. “Não dá para para aceitar isso. Todos os dias temos relatos como esse e sabemos que o substrato da homofobia e intolerância tem um tronco religioso. Não adianta dizer que não, haja vista os casos seguidos de três pais-de-santo mortos (ver cronologia) em quatro meses e mais uma tentativa de homicídio” , afirmou.

FONTE: A Critica em 05/07/2011

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