Estado também patrocina a intolerância religiosa no Brasil

O Estado, que deveria garantir a liberdade de culto aos cidadãos, também patrocina a intolerância religiosa no Brasil. A afirmação é de Márcio Alexandre Gualberto, do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, que falou sobre o tema na audiência pública promovida pela Comissão de Cidadania da Assembleia Legislativa (Ales), na noite desta quinta-feira (18).

O evento foi proposto pelo deputado Roberto Carlos (PT), e atraiu pessoas de diversas denominações religiosas para o Plenário Dirceu Cardoso. Em sua palestra, Márcio Gualberto adiantou que todos os setores religiosos são vítimas da intolerância, inclusive os católicos, que representam um grande grupo. E, a questão da intolerância religiosa é profunda e encerra a violência.

Além dos setores religiosos, que praticam intolerância uns contra os outros, há a intolerância patrocinada pelo Estado, que deveria ser laico, disse Márcio Gualberto. Citou como exemplo o fato de o poder público manter em seus prédios imagens que remetem a uma ou outra religião. No entender do palestrante, ou se expressam todas as religiões, ou nenhuma.

Prosseguiu lembrando que nas corporações militares existe a capelania militar, da qual podem fazer parte adeptos do catolicismo ou de denominações protestantes. O capelão deve ser padre ou pastor, sem que exista qualquer brecha para a manifestação de outras religiões.

“Precisamos estar o tempo todo construindo pontes de diálogo com os setores”, pregou, inclusive com o aparato repressor do Estado – a polícia. Acrescentou que no Espírito Santo foi constituído um fórum que reúne várias religiões. Mais que um avanço, esse é o caminho, apontou Márcio Gualberto.

O palestrante avaliou que a questão não pode ser debatida com simplicidade, mas em todas as suas nuances. Lembrou que o intolerante não aceita, não quer, não reconhece a religião do outro. E o antônimo não é “tolerar”, mas respeito, que implica em compreender a dimensão do outro, ter afeto.


Na abertura do evento, o deputado Roberto Carlos destacou que é papel do Legislativo combater a intolerância. Opinou que as religiões de matriz africana são as que mais sofrem discriminação, acrescentando que é preciso combater a intolerância de uma forma ampla. Presente ao evento, a deputada Solange Lube (PMDB) avaliou que o debate é necessário em um país como o Brasil, por conta da diversidade de raças e pluraridade religiosa.

O subsecretário de Estado de Direitos Humanos, Perly Cipriano, ressaltou que o combate à intolerância religiosa é um movimento mundial, com ações programadas da Organização das Nações Unidas (ONU) e de diversos governos, inclusive o brasileiro, com a criação de um conselho específico.

A intolerância está intimamente ligada à violência, lamentou Gilmar Ferreira de Oliveira, presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos, pregando que sejam articuladas mais e melhores políticas públicas, tanto para a promoção da igualdade racial, quanto para combater a intolerância religiosa.

FONTE: Assembleia Legislativa do Estado Espírito Santo em 18/08/2011

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