02 de fevereiro: dia de combate à intolerância religiosa

Hoje é Dia Municipal e Estadual de Combate a Intolerância Religiosa de Matriz Africana. Em Maceió, por meio da Lei nº 5.711, instituída em 23 de julho de 2008, seguidores da umbanda e do candomblé podem aproveitar a ocasião para promover atividades ligadas às duas religiões. 02 de fevereiro foi escolhido para celebrar o fim ao preconceito porque também é hoje o dia de Yemanjá e Oxum, rainhas das águas e da fertilidade, respectivamente e que são entidades veneradas pelos seguidores dessas duas crenças e porque foi, nessa mesma data, que houve o trágico ‘Quebra de Xangô’, o maior massacre brasileiro praticado contra babalorixás. O episódio aconteceu em Alagoas.

A lei nº 5.711, de autoria do vereador Galba Novaes (PRB), cria, em seu artigo 1º o ‘Dia Municipal de Combate à Intolerância Religiosa de Matriz Africana’ e determina que a data seja incluída no calendário civil do Município para efeitos de comemoração oficial. Para promover tais comemorações, o Núcleo de Cultura Afro-Brasileira Iya Ogum-Te, as federações de candomblé e umbanda e o Município deverão planejar e executar as atividades.

“Propusemos a lei, em 2008, tendo a consciência de que não fizemos nada mais do que a nossa obrigação. Inclusive, foi uma forma de nos redimirmos diante daquela parte triste da nossa história, que ficou conhecida como o ‘Quebra de Xangô’, quando os terreiros de candomblé e umbanda, no ano de 1912, foram barbaramente invadidos, destruídos e, seus líderes, humilhados e agredidos em praça pública. Temos o dever político e social de nos desculparmos por aquele massacre que até hoje nos envergonha. Precisamos, mais do que nunca, trabalhar e proteger a cultura e os credos da nossa terra”, defendeu Novaes.
Entretanto, apesar da data ser hoje, não será feita nenhuma atividade ligada ao tema durante toda esta quarta-feira.No Estado, A lei é de autoria do deputado Judson Cabral (PT).

Ações serão em março

De acordo com o Pai Célio, diretor do Núcleo de Cultura Afro-Brasileira Iya Ogum-te, hoje não haverá nenhuma mobilização. As atividades foram transferidas para o mês de março. “Faremos audiências públicas na Câmara Municipal e na Assembleia Legislativa. Vamos contar um pouco da nossa história, tentar desmistificar a imagem de que as religiões africanas são ligadas a feitiçaria e macumba e cobrar a criação de políticas públicas para as comunidades de raízes africanas e negras. Infelizmente, não há muito o que e comemorar neste dia”, comentou o babalorizá.

Segundo ele, o Município e o Estado têm que ser cobrados, diariamente, para criar ações de valorização das religiões de umbanda e candomblé. “Precisamos de atividades culturais e sociais para as comunidades quilombolas e remanescentes dos escravos, a exemplo de escolas, aulas de capoeira, seminários, cursos de inclusão digital etc. A auto-estima dessas pessoas tem que ser elevada porque elas vivem sendo discriminadas. Somos vítimas do preconceito todos os dias. Como não nos sentiremos discriminados? Só por meio da construção de um processo de educação muito forte”, disse ele.

Pai Célio também defendeu que o preconceito deve ser ‘quebrado’ na escola, por meio do cumprimento da lei federal nº 10.639/03, que estabelece ensino religioso de matriz africana nas escolas de 1º grau. “Se a criança for ensinada que nós não somos macumbeiros e nem bruxos, ela não crescerá nos discriminando. É preciso deixar claro que a macumba, palavra que também significa magia, era praticada por mágicos na Europa e nada tem a ver com as nossas religiões. É claro que há pessoas que a fazem, mas não porque crer no candomblé ou na umbanda. A nossa ideologia é baseada no culto à natureza, que são os orixás”, explicou o babalorixá, acrescentando ainda que, muitas fiéis católicos e ligados a outras correntes religiosas já freqüentaram templos de matriz africana para ‘saber’ sobre o futuro por meio dos búzios e das cartas.

O ‘Quebra de Xangô’

No dia 02 de fevereiro de 1912, segundo conta a história, uma milícia armada se organizou e, sabendo que nesta data os terreiros estariam homenageando Oxum, invadiram os templos, bateram nos babalorixás e provocaram incêndios e mortes em vários municípios ao mesmo tempo.

“Foi o maior sacrilégio contra os seguidores de religiões de matriz africana. Uma milícia particular, a mando do governo Clodoaldo da Fonseca, à época, projetou o ataque. Oxum, a deusa das águas e dos rios, estava sendo comemorada pelos nossos ancestrais e os assassinos sabiam que estaríamos reunidos. Eles invadiram os terreiros, destruíram objetos sagrados, mataram líderes de axé. Foi o maior caso de intolerância visto no Brasil durante centenas de anos de história. Em seguida, a ditadura de Getúlio Vargas também nos perseguiu e não permitia a abertura dos nossos terreiros. E não podemos nos esquecer do início de tudo, o ano de 1695, quando foi destruído o Quilombo dos Palmares. O Estado brasileiro nos tratou como marginais a vida toda e, por isso, tem uma grande dívida conosco”, concluiu Pai Célio.

Parte dos objetos levados no ‘Quebra do Xangô’ pode ser encontrada na coleção Perseverança no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, localizado na Ladeira do Brito, Centro de Maceió. Entre eles, amuletos e estátuas sagradas.

Atualmente Alagoas possui cerca de seis mil terreiros em todos os 102 municípios. As cidades mais longínquas do Estado possuem, ao menos, quatro terreiros. Só em Maceió são mais de três mil.

FONTE: Gazeta web em 02/02/2011

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