Intolerância: Casa de Oxumarê notifica Facebook por postagem de Luisa Mell

 
Ativista associou violência contra cão a ritual religioso; leia ação extrajudicial 
 
 
(Foto: Reprodução/Facebook)
O terreiro Ilé Òsùmàrè Aràká Àse Ògòdó, conhecido como Casa de Oxumarê, ingressou nesta segunda-feira (4) com uma notificação extrajudicial para que o Facebook remova postagens divulgadas pela ativista pelos animais e apresentadora Luisa Mell no Instagram e no próprio Facebook.
O terreiro diz que as publicações são "difamatórias e ofensivas" e acusa a ativista de intolerância religiosa contra as religiões de matriz africana, ao associar a violência animal ao candomblé ou umbanda. No texto da postagem (veja abaixo), junto com uma foto de um cão com patas amputadas, Luisa utiliza termos como “religião”, “crença alheia”, “ritual”, “ritual macabro”, “esse deus”, “sacrifício”, “sacrifício final”.

“Não tenho palavras, só choro. Em nome de uma religião, de uma crença, em um ritual, esse filhotinho teve as duas patinhas de trás e as orelhas cortadas, lentamente. Conseguimos fazer seu resgate antes de seu ‘sacrifício final’ e ele está conosco agora. Não entendo por que ele tem que pagar com seu corpo, com seu sofrimento, a crença alheia. O que ele fez a esse deus para que lhe causassem tanto sofrimento, tanta dor? Nunca, nunca vou entender. Nunca irei concordar. Minha religião sempre foi e sempre será meus atos. Ele está medicado, vai passar por cirurgia e precisaremos criar próteses para ele”, escreveu a ativista.

Em nota, a Casa de Oxumarê reagiu: “Segundo a postagem, o cão teria sido 'resgatado' de um ritual, mas não há qualquer menção ao tipo de ritual, templo, local, dia e hora do suposto resgate. Embora todos saibamos que judeus e muçulmanos também possuem rituais de abate religioso de animais, no imaginário social brasileiro, abate animal está associado exclusivamente às religiões afro-brasileiras. A mensagem é direta, cristalina e inequívoca: induz as pessoas a associarem religiões afro-brasileiras com crueldade e maus tratos contra animais. A postagem constrange, ofende, difama, incita o ódio e a intolerância religiosa contra os milhões de brasileiros que professam as religiões afro-brasileiras”.
Em entrevista ao CORREIO, no início da tarde desta terça-feira (5), Leandro da Mata, que é Babá Egbé do terreiro, explicou que além de intolerância religiosa, a publicação propaga o discurso de ódio.
"A pessoa tem que ter uma preocupação ao disseminar sua opinião nas redes socias, seja ela qual foi. Luisa foi infeliz porque ela associa a tragédia com o animal indiretamente a religiões de matriz africana. Ela é uma pessoa famosa, muito conhecida, e que acaba influenciando outra pessoas. Isso fomenta indiretamente ao ódio religioso. O mínimo que deve ser feito é que a postagem seja retirada do ar. Está repercutindo muito e o impacto é ruim", afirma.
"A gente, do Candomblé, povo de santo, passou muito tempo reagindo de forma pacífica. A estratégia agora é ser mais atuante. Precisamos responder, ir pra cima e combater o preconceito. A gente não pode aceitar ações como essa", completa. 
Conforme Leandro, a Casa tentou entrar em contato com Luisa através das redes sociais, mas não obteve retorno. Na postagem, alguns internautas também sinalizam o preconceito. Por isso, resolveram ingressar com a notificação extrajudicial. O Facebook, que também é dono do Instagram, tem 72 horas para tomar conhecimento da notificação. Após isso, o prazo é de cinco dias úteis para remover os conteúdos.
Caso a empresa mantenha, serão adotadas medidas judiciais, explica o advogado da Casa de Oxumarê, Hédio Silva Jr. "Optamos por ingressar com a notificação extrajudicial, instrumento previsto pelo Marco Civil da Internet, fixando um prazo para a remoção da postagem. A notificação foi distribuida nesta segunda. Se, por acaso, mantiverem a postagem de Luisa isso abre a possibilidade de uma ação judicial e eventual pedido de danos morais", explica o representante, que é dirigente do Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-brasileiras (Idafro).
Confira a notificação extrajudicial na íntegra.

FONTE: Correio em 05/11/2019

 

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