Organização do barco de Iemanjá lamenta falta de apoio financeiro da prefeitura

Procissão do barco de Iemanjá em Copacabana (Arquivo) Foto: Fábio Guimarães / Agência O Globo
Pelo segundo ano consecutivo, a Prefeitura do Rio não irá apoiar financeiramente o barco de Iemanjá, procissão tradicional que acontece todo ano em Copacabana, Zona Sul da cidade. A decisão foi noticiada nesta terça-feira pela coluna de Ancelmo Gois, no jornal "O Globo". O evento é organizado pela Congregação Espírita Umbandista do Brasil (Ceub), que, sem o dinheiro da prefeitura, prepara uma vaquinha online na tentativa de manter o cortejo, agendado para o dia 29 de dezembro.

Fátima Damas, presidente da Ceub, afirma que a congregação foi até a prefeitura e deu entrada com o pedido em julho deste ano. Durante cerca de cinco meses, eles foram informados de que a solicitação estava sendo avaliada. A negativa só ocorreu nesta segunda-feira, a menos de um mês do evento. Ela lembra que ano passado, sem o apoio, outra campanha online conseguiu arrecadar R$ 5,7 mil. Esse valor, somado às doações de amigos, levaram o Barco de Iemanjá para Copacabana.

— Esse evento acontece há mais de oito décadas, e só eu estou 14 anos à frente dele. Sinto bastante medo de não conseguir realizar o nosso cortejo, pois muitas pessoas que nos ajudaram no ano passado não garantiram o apoio para este ano — lamenta Fátima.

Segundo a Riotur, nenhum pedido de apoio financeiro foi protocolado na institutição. O órgão de turismo explica ainda que a solicitação foi feita diretamente à prefeitura, que encaminhou o pleito à coordenadoria de assuntos e eventos religiosos. De qualquer forma, a Riotur explica que não houve repasses, em razão da crise, para nenhum evento no Rio. A instituição destaca que vai dar suporte necessário de estrutura, como guardas municipais, agentes de trânsito e grades de proteção.

— Só isso não é suficiente, infelizmente. Nós precisamos do dinheiro, temos gastos com a organização desse cortejo tão bonito — diz Fátima.

As cerimônias em homenagem a Iemanjá são declaradas patrimônio cultural carioca e inseridas no calendário oficial de eventos do Rio, conforme o decreto nº 35.020 de 2011. Elas expõem o sincretismo religioso como expressão cultural brasileira. A congregação argumenta que o Barco de Iemanjá promove a ação contra a intolerância religiosa.

Em 2016, último ano que a prefeitura apoiou financeiramente o evento, R$ 30 mil foram destinados ao pessoal da organização e utilizados para o aluguel dos ônibus que buscam as pessoas nos terreiros distribuídos pelo Rio, instalação de tendas e geradores de energia, além da compra dos balaios de flores e das frutas distribuídas ao público.

O babalaô Ivanir dos Santos, de 63 anos, lembra outros eventos que, segundo ele, foram negligenciados pela prefeitura, como a 11ª Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, em setembro, o Trem do Samba, realizado no último sábado, e o segundo cortejo para Iemanjá, que sai de Madureira e vai até o Posto 4 da praia de Copacabana.

— Nota-se, com essa série de medidas em relação à cultura afropopular, um certo preconceito contra as religiões africanas, que fazem parte da identidade carioca. Além disso, esses eventos acabam gerando recursos para o turismo. O Marcelo Crivella não é um prefeito laico, ele não respeita todas as religiões e coloca a dele acima das outras.

FONTE: Jornal Extra em 04/12/2018

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.