Casa de matriz africana de Sepetiba abre portas para atividades culturais e quebra preconceito religioso

Por Brenno Carvalho


Por Nathália Marsal

Guerreiras como as bonecas africanas Ahosi que produzem, cerca de 15 mulheres dividem histórias, sendo uma característica em comum: a religião nunca foi impedimento para participar do Instituto Onikoja, que funciona na casa de candomblé Humpame Kuban Bewa Lemin, em Sepetiba.

Antes de começar a aprender, produzir e vender o artesanato, elas estavam deprimidas ou até mesmo em situação financeira crítica. Evangélica, Edite Assis, de 65 anos, foi convidada por uma colega há três anos. Ela havia perdido a mãe e chegou a ficar insegura de entrar num terreiro.

— Quebrei todo preconceito que tinha. Ninguém fala de religião aqui. É um lugar para aprender e fazer amizades — conta a aposentada.

Luzia de Souza, de 48, saiu do vermelho com a ajuda do trabalho realizado na instituição. Com uma filha que precisava de cuidados especiais, ela não conseguia trabalho e, às vezes, se deparava com a despensa vazia. Além das bonecas, que hoje geram renda para o seu lar, a dona de casa foi encaminhada para programas do governo com auxílio prestado pela assistente social do Onikoja.

— A ideia é atrair pessoas e tirá-las da exclusão através da cultura — conta Nildo Freitas, um dos idealizadores do projeto, que destaca a importância social: — Nosso trabalho fomenta a tolerância religiosa. Muitos que participam são de outras religiões e não se importam de estar dentro de uma casa tipicamente afro.

A casa de candomblé foi aberta há 17 anos junto com as ações sociais. Elas tomaram uma proporção tão grande que foi necessária a criação de um instituto. A formalização da ONG aconteceu há apenas cinco meses. No entanto, sua importância já foi reconhecida por prêmios como o de Cultura Afro Fluminense, do Governo do Estado, em 2015; e o de Arte Escola Territórios Sociais, este ano.

O Instituto Onikoja oferece ainda horta comunitária e sagrada, oficinas de sabão a partir de óleo reciclado, coral, capoeira, camba de roda e zumbaxé, além de atendimento jurídico, de assistentes sociais, de homeopatia, entre outros.

O resultado inspirou o sacerdote da casa e presidente do instituto, Rogério Humbono, a incentivar outras lideranças religiosas a fazer o mesmo. O intuito é que todos abram suas portas para a cultura e assim combatam o preconceito. Nesse objetivo, cada um deve identificar uma ação cultural para ganhar os moradores do entorno com um viés que não seja religioso. Dentre elas estão as ações culturais da Casa Ylê Axé mi Bain; e aulas de capoeira, sabão e corte e costura da casa Kwe Ceja Ajonulebedecy.

— Mais do que religião, somos uma comunidade de tradição cultural. Só assim conseguiremos incentivar o respeito e a tolerância — disse o sacerdote Rogério Humbono.

FONTE: Jornal Extra em 27/11/2017

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