Audiência pública contra intolerância reúne líderes religiosos na Alerj

Acervo KOINONIA


Ana Luiza Vasconcelos*

Os recentes episódios de violência e depredação de terreiros de religiões de matrizes africanas foram tema do encontro que ocorreu hoje (5), na Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa de Estado do Rio de Janeiro (Alerj), com a participação de diversos líderes religiosos. Nos últimos dois meses, foram cerca de 40 denúncias de casos desse tipo de intolerância registrados no estado.

O crime é mais comum na Baixada Fluminense, uma vez que a região concentra maior quantidade de terreiros de candomblé e umbanda. Das 40 denúncias registradas, 12 foram de Nova Iguaçu, município da Baixada. Um dos casos foi o de Mãe de Oxalá, que participou hoje da reunião na Alerj e falou sobre os frequentes e violentos ataques que sua religião tem sofrido nos últimos 30 anos.

“Há quase 30 anos que somos vítimas de intolerância, com ataques verbais, com pedrada na roça, com tijolo que jogam, e isso piorou até chegar a esse ponto, quando explodiram um relógio de luz em um momento que tinha muita criança. Nós ficamos muito assustados, e aí eu fiz um boletim de ocorrência”, disse.

O pastor Henrique Vieira, da Igreja Batista do Caminho, também compareceu à reunião e admitiu que, na maioria dos casos, a violência é promovida por fiéis protestantes que não entendem que a verdadeira mensagem do cristianismo é o amor.

"Jesus disse que o critério para nós sermos reconhecidos como seus discípulos é o amor. Não é o dogma, não é a doutrina, não é um determinado modelo comportamental, é a capacidade de amar que define a experiência do Evangelho", destacou o pastor.

Um dos casos investigados pela secretaria ganhou notoriedade após ter um vídeo divulgado nas redes sociais pelos agressores. Nele, traficantes obrigam uma mãe de santo a destruir o espaço que continha oferendas e outros objetos religiosos. A vítima chegou a identificar os criminosos, mas, com medo de represálias, saiu do país. Raíssa Conceição Teixeira, que frequenta um templo em Anchieta, na zona norte do Rio, também destacou que os ataques contra as religiões de matrizes africanas não são novidade, mas vêm piorando.

"As pessoas que estão na religião de matrizes africanas são os negros, são pessoas que tem poder aquisitivo mais baixo, são as pessoas que sempre foram marginalizadas, então não novidade pra gente, sermos atacados. Hoje em dia ta muito mais latente, mas a gente ta acostumado a resistir.", disse Raíssa.

A frequência dos ataques de intolerância, principalmente, às religiões de matrizes africanas, também levou o secretário de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos, Átila Alexandre Nunes, a reunir-se na semana passada com líderes religiosos e a criar a Comissão Mista de Apoio às Vítimas de Ataques à Templos. O intuito é conseguir se aproximar mais das vítimas para melhor atender às suas necessidades.

O deputado Marcelo Freixo (PSOL), presidente da comissão, acredita também que os casos de intolerância vêm aumentando em todo o país, mas que a situação do Rio de Janeiro é mais preocupante por causa do envolvimento com o tráfico de drogas. Devido aos constantes ataques, o Governo criou um Dique Combate ao Preconceito, para receber denúncias e dar orientações - Disque Combate ao Preconceito: 2334-9551.

* Estagiária sob a supervisão do editor Davi Oliveira

Edição: Davi Oliveira

FONTE: EBC em 05/10/2017

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