Muçulmanos do Rio relatam aumento de intolerância em momentos de crise

"Olha a mulher do Bin Laden ali". A estudante carioca Ana Carolina Jimenez, 23, se acostumou a ouvir essa frase quando anda pelas ruas do Rio usando o véu que cobre sua cabeça.

Ela se converteu ao islã há dois anos. Filha de família católica -chegou a fazer até crisma-, decidiu pela religião muçulmana após iniciar uma busca pela sua espiritualidade.

"Antes de conhecer, eu também achava que o islã era uma religião de extremistas, de terroristas. Quando fui pesquisar, vi que ele prega a paz e o amor, e que quem pratica o mal em nome do islã são pessoas que entenderam errado a sua mensagem", diz.
A comunidade muçulmana no Rio está apreensiva com o temor generalizado de ataques terroristas na Olimpíada. A prisão de dez pessoas suspeitas por associação ao terrorismo aumentou a tensão.

Em momentos como esse, cresce a intolerância contra muçulmanos no país. Os principais alvos são as mulheres, mais facilmente identificáveis por usarem o tradicional véu.

Jimenez conta que em outubro passado aguardava em um ponto de ônibus em Higienópolis, zona norte, quando recebeu uma cusparada e uma ofensa verbal -"mulher bomba".

A jovem fará parte de um grupo de voluntários que trabalharão no centro interreligioso que foi montado na Vila dos Atletas durante as Olimpíadas. A ideia é que os competidores tenham um local para fazer suas orações de acordo com suas crenças.

Jimenez frequenta a Mesquita da Luz, na Tijuca, zona norte do Rio, a única do Estado do Rio. A SBM-RJ (Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio), que administra a mesquita, está organizando grupos de fieis para distribuir panfletos em Copacabana e na Tijuca durante dos Jogos, a respeito da religião e contra a intolerância.

Fiéis ouviam, nesta sexta-feira (22), sermão comandado pelo sheik moçambicano Adam Muhammad, 41. O próprio sheik, posição equivalente ao pastor da igreja evangélica, diz sentir na pele o preconceito quando anda pelas ruas com seu traje típico- a gafirah, espécie de touca de crochê branca, e a kandura, túnica com colarinho.

"As pessoas atravessam a rua ou não querem subir no elevador comigo. Minha esposa foi chamada de 'mulher bomba' no shopping Tijuca recentemente", disse ele.

A Lei 7.716, de 1989, tipifica o crime de intolerância religiosa, que prevê de um a três anos de multa. Antes do fim do sermão, o presidente da SBM, Mohamed Abdien, pediu calma aos fieis diante das notícias.

"Não vamos nos apavorar. Não revide, não entre em discussão. Temos que mostrar que somos de paz. Não deixem que o medo invada o coração de vocês", disse.

FONTE: Jornal Floripa em 25/07/2016

Um comentário:

  1. Gostei do blog. Partilho Uma linda mensagem de Aline e Osíris. https: // www. youtube.com/watch?v=Upv-P5 h2opw ...

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