'A intolerância religiosa sofrerá um refluxo', afirma coordenador do Viva Rio


A primeira edição do evento ‘Conte algo que não sei’ teve a intolerância religiosa como tema de reflexão. Na avaliação do coordenador do movimento Viva Rio, Rubem César Fernandes, a tendência é de que os movimentos frequentes de desrespeito e ataques às religiões, sobretudo as de matriz africana, sofram um refluxo. Rubem César foi o convidado para abordar o assunto ao lado da ouvidora-geral do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), juíza Andréa Pachá. O encontro foi realizado na noite desta quinta, dia 17, na biblioteca do TJRJ.

De família presbiteriana, Rubem César abordou o histórico dos movimentos religiosos desde a ditadura militar e o surgimento das lideranças de direita dentro das igrejas; a relação entre denominações evangélicas e militares; o papel da Igreja Católica e seus movimentos internos e o crescimento dos movimentos pentecostal e neopentencostal após a redemocratização do país.

De acordo com o antropólogo, os movimentos evangélicos atuais – mais ligados ao radicalismo – são expressivos, mas sem solidez, e com representatividade no ambiente social numa conjugação com o racismo, a homofobia e a intolerância. Por esse alinhamento, o coordenador do Viva Rio crê num refluxo, já que existe um quantitativo expressivo de cristãos que não se sentem representados por parte das lideranças evangélicas atuais presentes na política e na mídia de massa. O que falta, segundo ele, é que esse movimento oposto tenha mais visibilidade e visão estratégica.

“Existe uma considerável parcela da população evangélica que não se sente representada em alguns líderes políticos e pastores. Essa boa parcela pode e deve trilhar nos direitos civis sem abrir mão das suas convicções. Agora, não adianta querer bater de frente, pois você afirma que essa representatividade questionável existe. É preciso marcar sua posição”, disse o coordenador do Viva Rio, que prevê nas igrejas reformadas – presbiteriana, metodista, congregacional, entre outras – a possibilidade de se trabalhar dentro do que chamou de ‘congregacionismo’, isto é, na articulação dos movimentos democráticos dentro das igrejas. Da mesma forma, Rubem César salientou que religiões espiritualistas estão encontrando um discurso de defesa das liberdades civis para se posicionar como instituição.

A ouvidora do TJRJ, juíza Andréa Pachá, acredita que a expressão “tolerância religiosa” soa de forma desagradável, pois este é um sentimento limite entre o que realmente deveria – e deve – haver entre as religiões: o respeito. “O Estado tem que proteger a liberdade de religião”, disse a magistrada, que acrescentou: os discursos sobre os direitos humanos e civis precisam ampliar seus horizontes atuais. “A impressão que tenho é que simplesmente falamos para os nossos públicos. É preciso ampliar o debate, e saber como ampliar é um grande desafio”.

Na abertura do evento, o presidente do TJRJ, desembargador Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, ressaltou a iniciativa da Diretoria Geral de Comunicação e de Difusão do Conhecimento (DGCOM) de criar o ‘Conte algo que não sei’. “Este espaço comprova que o tribunal não está se comportando apenas como tribunal, mas como instituição sensível às angústias e anseios da sociedade”, afirmou.

FONTE: Justiça em Foco e Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ)

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