No Brasil, intolerância religiosa nega e tenta inibir cultura mestiça



Tardou quase cinco anos, mas aconteceu. A Rede Bandeirantes, mediante acordo com o Ministério Público Federal, está obrigada a exibir, a partir de junho, um vídeo que reafirma que o Estado brasileiro é constitucionalmente laico e exige respeito à liberdade religiosa e irreligiosa. A medida é resultante do processo que a emissora havia tomado depois do ataque de ódio contra ateus, promovido em julho de 2010 pelo apresentador policialesco José Luiz Datena.

A Band vai ter que veicular 72 vezes, a serem distribuídas em vários dias seguidos, um informe de 40 segundos, com o intuito de conscientizar a audiência sobre a importância da laicidade do Estado e da liberdade religiosa. Será um material contra a intolerância religiosa.

O ódio de Datena contra ateus

Naquela ocasião, em 27 de julho de 2010, ao comentar uma notícia sobre o assassinato de um jovem, Datena atribuiu a autoria do crime a alguém que “não tem Deus no coração”. E a partir daí, iniciou um prolongado discurso de ódio, declarando toda a sua intolerância contra quem não acredita em Deus, com menções explícitas aos ateus. A cena incluiu até uma enquete por telefone, que perguntava se os respondentes acreditavam ou não na divindade.

O Consciencia.blog.br, na época, fez vários posts comentando o caso, e trouxe do site da controversa ATEA – Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos a transcrição e o vídeo os quais flagraram o preconceito ateofóbico do apresentador.

Nos anos seguintes, quando perguntado sobre seu ataque de ódio, Datena alternava entre a negação de seu preconceito e a vitimização. Declarou uma vez que estava “sofrendo perseguição religiosa”.

O episódio introduziu uma parte da população não ateísta brasileira à problemática do preconceito contra ateus. Antes dele, quase que somente os próprios ateus tinham consciência da dimensão e gravidade desse tipo de intolerância.

A condenação da Band – e do próprio Datena alguns anos atrás – por intolerância religiosa ainda está mais no campo da exceção, por representar um caso praticamente isolado de justiça num país onde ainda é extremamente comum argumentar que quem crê em Deus é “mais ético” do que quem não acredita e também são frequentes os textos de opinião que falam mal da descrença na divindade e da “falta de Deus”.

Mas é um começo exemplar, um alento para os ateus reforçarem sua militância contra a ateofobia. Militância essa que, fique claro, tem sido bombardeada pelo fogo amigo dos neoateístas preconceituosos, que dão brecha para que os ateus sejam generalizados e preconceituados como “arrogantes”, “intolerantes” e “odiadores de Deus”.


FONTE: Consciência Geledés em 02/06/2015

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