Sacerdotes da umbanda, candomblé e do catolicismo emocionam público na Missa dos Quilombos


Unidos na mesma fé, católicos, umbandistas e candomblecistas celebraram juntos, em um mesmo ‘altar’, a conquista da diversidade cultural, religiosa e étnica do povo brasileiro. Foi a Missa dos Quilombos, que marcou, nesta terça-feira, 20, no Centro de Cultura Negra (CCN), no bairro do Laguinho, a passagem do Dia Nacional da Consciência Negra.

Em Macapá, a Missa dos Quilombos representa um dos pontos ápices da programação da Semana da Consciência Negra e também o momento mais emocionante, pois reúne todas as tribos negras numa manifestação de sincretismo religioso, fé e tradição. Na plateia já se podia identificar a diversidade de adeptos, com suas bandeiras de santo, bandeiras de comunidades, com imagens de santo e de entidades, roupas brancas para todos os lados, misturavam-se com o intenso colorido das saias rodadas das mulheres do Marabaixo e do Batuque.

No altar (palco) uma imagem de quase um metro de altura de Nossa Senhora da Conceição dividiu espaço com os orixás, entidades, encantados e caboclos que, com certeza, como disse pai Salvino, também estavam presentes na celebração, regozijados de satisfação.

Iniciada às 20h, a Missa foi presidida por padre Paulo Roberto, pai Salvino, pai Marcos, com o auxílio das mães Nina e Iolete e de pai Aurélio. Este ano, o candomblé e a umbanda ganharam mais espaço dentro da celebração, o que foi considerado por seus religiosos como o reconhecimento e o fortalecimento das religiões de matrizes africanas.

“Esse momento demonstra que estamos sendo valorizados quanto sacerdotes e quanto religião. Sem dúvida é a maior prova de que o mundo pertence a Deus, que tem várias faces, mas, ao final, é um só. A Missa dos Quilombos, a Semana da Consciência Negra é um modelo de congregação para se alcançar a paz, pois aqui as diferenças são respeitadas e celebradas sem divisões”, declarou pai Marcos.

Envolvida por rituais, a Missa dos Quilombos foi aberta com orações do catolicismo, da umbanda e do candomblé, bem como canções pertencentes a cada religião, incluindo cânticos na língua africana Iorubá (Nigéria) e canções populares das lutas dos negros nas senzalas e por liberdade. Do início ao fim, mais de uma hora de celebração, a presença marcante dos sons das caixas de percussão, acompanhando cada ritual.

Dois momentos especiais foram a oferenda e o banho de cheiro. No primeiro, representantes de comunidades tradicionais, religiões de matrizes africanas, negros, sejam jovens ou velhos, entraram no anfiteatro e dispuseram em uma mesa oval, central, farta seleção de frutas, que, em seguida foi distribuída às milhares de pessoas presentes. O ritual representa o cultivo da terra fértil, a saúde, a partilha.

Após a ceia, foi a vez de se purificar o espírito com o esperado banho de cheiro, feito a partir de ervas, flores, incensos, perfumes. Com baldes cheios do banho e um ramo de erva na mão, os colaboradores da Missa passaram sacudindo o galho de erva por todo o ambiente, lavando as pessoas e deixando um aroma gostoso no ar.

Da plateia, o governador Camilo Capiberipe, acompanhado da primeira-dama, Cláudia Capiberibe, e de secretários de governo acompanhou extasiado a celebração. “Para mim esse é um momento histórico, de quebra de preconceitos e de união universal. Estou muito feliz em apoiar um evento com essa dimensão e com tamanha carga reflexiva”, comentou o governador.

Após a Missa dos Quilombos, a programação continuou com apresentações dos grupos de Marabaixo Manoel Felipe, de Batuque Filhos do Curiaú, Marabaixo São Sebastião do Igarapé do Lago. E a festa foi encerrada com show da banda Afro Ritmus.

A partir de hoje, quarta, 21, até o próximo sábado, 24, tem Encontro dos Tambores, com a participação de 40 comunidades tradicionais, 30 da zona rural, que apresentarão, no anfiteatro do CCN, as manifestações Marabaixo, Batuque, Zimba e Sairé.

A Semana da Consciência Negra é realizada pelos segmentos e comunidades negras do Estado, União dos Negros do Amapá (UNA), com o total apoio do governo do Estado, que este ano investe mais de R$ 750 mil em todo o evento.

Acompanhe a programação:
Dia 21 – Encontro dos Tambores
Hora: 19h
Local: Centro de Cultura Negra
Comunidades:
Lagoa dos Índios
Curiaú
Berço do Marabaixo
Goiabal
Grupo do Pavão
União Folclórica do Igarapé do Lago
Raízes do Mazagão Velho
Grupo Folclórico e Cultural Nossa Senhora da Conceição
São benedito do Mazagão Novo
Nossas Raízes
Dia 22 – Encontro dos Tambores
Hora: 19h
Local: Centro de Cultura Negra
Comunidades:
Gungá
União Folclórica de Campina Grande
Foz do Pirativa
Raízes do Babá
Grupo Quilombola São João I do Maruanum II
Raízes do Bolão (Curiaú)
Herdeiros do Marabaixo
Torrão do Matapi
Cunani
São Francisco do Matapi – Tia Sinhá
Dia 23 a 24 – I Seminário da Juventude Negra
Hora: 8h às 18h
Local: Auditório Waldemiro Gomes do Museu Sacaca
Contato: Seafro
Dia 23 – Encontro dos Tambores
Hora: 19h
Local: Centro de Cultura Negra
Comunidades:
Arthur Sacaca
São Tomé do Alto Pirativa
Rosa
Comunidade do Coração – Tia Dica
Irmandade São José da Pedreira
Grupo Folclórico e Cultural do Marabaixo do Ambé
São Pedro dos Bois
Mata Fome
São Benedito da Campina Grande
Associação Folclórica Batuque Raízes do Coração
Dias 24 e 25
Hora: 8h às 11h e 14 às 18h
Oficina de Dança Afro
Local: Centro de Cultura Negra
Contato: Maria da Capoeira (9157-5991)
De 14 a 24
Oficina de Percussão e Batuque
Local: Centro de Cultura Negra
Hora: 8h às 11h e das 14h às 17h
Contato: Elísia Congo (9124-7597)
Dia 24 – Encontro dos Tambores
Hora: 19h
Local: Centro de Cultura Negra
Comunidades:
Santo Antônio do Matapi
Ilha Redonda
Tambor de Crioula
Raimundo Ladislau
São Sebastião do Mazagão Novo
Raízes da Favela
Comunidade do Maruanum
Comunidade do Carvão
Ressaca da Pedreira
Azebic
Dia 25 – Oficina de Grafite
Hora: 17h
Local: Centro de Cultura Negra
Contato: Zulu (9119-8301)
Dia 25 – Seminário federação de Tambor de Mina
Local: Avenida Carlos Gomes, 573, bairro Jesus de Nazaré, entre Hildemar Maia e Professor Tostes
6h – Abertura com rufar de tambor e hino da umbanda
8h – Café da manhã
9h30 – Palestra “Iniciação da Umbanda no Amapá”, com mãe Iolete
Palestra “Lei 10.639″, com Fábio Bernardo Furtado
Palestra “Intolerância Religiosa”, com professor Roberto Moraes
Palestra “Conquistas da religião”, com Fátima Vale, relatos de pais de santo
12h – Almoço
15h – Exibição de documentários, vídeos relacionados a religião
19h – Toar do Tambor de Umbanda e Mina Nagô
Local: Centro de Cultura Negra
2h – Encerramento
Dia 25 – Umbanda
Hora: 21h
Local: Centro de Cultura Negra
Espetáculo de Dança Afro (mãe Nina – 9154-6802)
Contato: Una (Rildo: 9186-1606)
Dias 26 e 27 – Apresentações das escolas participantes do I Prêmio Seafro: Igualdade Racial na escola é coisa séria
Local: Centro de Difusão Cultural João Batista de Azevedo Picanço
Horário: 8h30 às 12h; 14h30 às 18h30
Contato: Seafro
Dia 26 – Aniversário da UNA
Hora: 20h
Local: Centro de Cultura Negra
Contato: UNA (Rildo: 9186-106)
Dia 27 – Candomblé
Hora: 21h
Contato: Pai Salvino (9119-7219)
Dia 30 – Premiação Seafro: Igualdade Racial na escola é coisa séria
Hora: 14h às 18h
Responsável: Seafro
Local: Auditório Waldemiro Gomes do Museu Sacaca

FONTE: Blog Corrêa Neto em 21/11/2012

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.